(Phillip Abbott/Motorsport Images)


Olá! Eu sei, eu sei. Faz muito tempo, mas muito tempo mesmo que não passo por aqui. Eu juro para você que existe um motivo para esse meu longo hiato nas corridas e nas opiniões que faço sobre a Indy, mas no fim das contas tem a ver com uma pandemia que não acaba nunca e uma guerra mundial prestes a decolar. Pois bem, mudando a chave do horrível mundo real para o admirável mundo ideal, a Indy:

Descobri que neste fim de semana, a nossa querida e amada categoria está desembarcando para talvez o mais sagrado dos solos depois de Indianapolis desde o início da IRL: o Texas Motor Speedway. Não falo somente sobre o projeto de obra prima arquitetônica de 150 mil lugares, ou do fabuloso hotel que fica em volta do circuito de uma milha e meia. Falo do que todo fã de corridas em ovais, e que só curte a Indy por conta disso, é, eu sei que vocês existem aos montes ainda, lembra ao juntar as palavras IndyCar e Texas: as corridas insanas que tivemos por lá ao longo de exatamente vinte e cinco anos.

Pois bem. Acontece que este casamento prestes a completar bodas de prata está cada vez mais instável, e nem falo sobre exatamente o clima que permanece fiel entre o capitão e os donos do TMS. Falo sobre o elo mais frágil dentro do relacionamento, as crianças, ou seja, os fãs.

Não sei se você está ainda mais dentro das cavernas do que eu, mas faz muito, muito tempo mesmo, que não se fala em termos uma corrida digna de deixar de sair com o seu parceiro ou parceira a noite, e de ficarmos ansiosos para pedir uma pizza, sentar no sofá, e vibrar com Marco Andretti querendo passar Ryan Hunter-Reay faltando oito voltas para o final por dentro da faixa branca (o depois você conhece, mas é disso que precisamos). Quiçá, você nem deve ter visto a última corrida realmente insana ao vivo direito, pois tinha menos de dez anos de idade na época e tinha que dormir cedo.

Os fãs agora falam mais sobre um tal de PJ1, algo mais propício da Nascar, do que da corrida que teremos. Isso indica muita coisa sobre o atual paradigma da categoria de monoposto que corre em ovais, para os ovais. Por isso, surge a talvez temida dúvida:

O que esperar da corrida que um dia já foi motivo de comemoração, e hoje passa por um desprezo completo, afinal?


Lembranças póstumas de TMS



Aos vermes que primeiro falaram que a Indy não iria sobreviver pós pack racing, dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.

Pois é, mas quem não tá sobrevivendo por muito tempo é o Texas na Indy. Apesar de termos uma segunda lua de mel pós término do pack racing entre 2015 e 2017, especialmente devido à atitude da própria Indy de aumentar o downforce insanamente, a Indy desde 2012 não traz corridas boas. Então, é fácil ter o pensamento de que será um porre.

Inclusive, me parece que a Indy no Texas foi feito para ser algo estritamente para o pack racing, que diga-se, não existia quando o oval foi construído. Acabou o pack racing? Então, pode acabar o TMS. E eu não estou pedindo a volta das corridas lado a lado.

O resumo dos últimos dez anos com este DW12 é você ver a largada, que sempre promove uma falsa esperança de que o negócio vai ser bom, com vários carros lado a lado. Só que isso não dura nem dois minutos, literalmente, pois na quarta volta Scott Dixon já abre cinco segundos de vantagem para Will Power, ou temos o trenzinho da alegria, em que ninguém ultrapassa ninguém. Apenas ficamos na expectativa de Sato ou algum rookie encher o muro para termos uma nova relargada.

É sério, eu odeio os stages da Nascar, mas penso que talvez seja uma boa ideia para a Indy adotar uma espécie de caution clock, e depois de vinte minutos meter uma amarela. Seria tipo corridas sprint no velódromo de ciclismo de velocidade. Depois de fazer isso, pode enterrar o oval para sempre, pois como num velódromo pós olimpíadas, ninguém mais usaria.

Pelo menos iria frear o número de lambanças que os dirigentes da pista estão fazendo nos últimos anos. É tipo uma casa cheia de aranhas. Em alguns casos, é melhor queimar a casa.



Texas, o problema não sou eu, é você!



Eu fui muito a favor do Texas Motor Speedway mudar o número de linhas, de três para quatro, e da inclinação em suas curvas. Isso porque dava a pinta de ser um oval diferente dos demais, estilo Phoenix, só que bem mais rápido. Eu achei que o Texas iria ser uma pista em que daria mais chances de estratégias e corridas levemente mais próximas, quase que nem Michigan na Cart. 

Que jeito de queimar a minha própria língua.

Primeiro, colocaram um asfalto farinhento de rio, em que lembra um acostamento de rodovia portuária cheio de soja acumulada vinda dos caminhões que passam por ali. É sério. Não tinha a menor condição. Nem a própria Nascar conseguiu correr na primeira, segunda, quarta corrida que aconteceu no novíssimo TMS.

Sem contar o temído PJ1. Eu sei que essa gosma é da Nascar, mas o Texas também tem uma enorme parcela de culpa nisso. Outras pistas ovais, como por exemplo Phoenix, também colocaram essa coisa, mas conseguiram tirar. Inclusive, a Nascar neste ano de 2022 não irá utilizar o produto. Porque raios o Texas sente tanta dificuldade? Até nós, brasileiros, demos um jeito no sambódromo quando a Indy correu aqui em 2010. O que nós temos que eles não tem?

Ano passado a Indy resolveu meter duas corridas, assim como nos áureos tempos entre 1997-2004. Só que as duas foram horrorosas, que selaram as chances de tentarmos algo assim de novo. Aliás, para colocar uma pá de cal, você percebeu que a corrida será num domingo de novo? Inclusive ao meio dia do horário local? Isso porque neste fim de semana acontecem as doze horas de Sebring. Não tinha como colocar a corrida para o tradicional sábado a noite. Mais uma vez, para bains.

A Indy não vai mudar quem é neste relacionamento abusivo por conta de um oval que virou uma catástrofe natural de asfalto inclinado. Ou vai?


Afinal, todos merecem uma décima chance


Scott Mclovin, que tem enormes chances de ganhar o caneco desse ano, foi o mais rápido em um teste que serviu não só para testar os pilotos, mas sim o oval, depois da enésima sessão de lixamento do PJ1. O teste teve de ser adiado, pois a temperatura ambiente estava abaixo dos dez graus.

Para ampliar o desastre, se descobriu que o oval está um pouco diferente do que era no ano passado. Resolveram tirar parte do asfalto decorativo para patrocinadores na reta principal, para colocar mais grama. Ou seja, FICOU PIOR. Não existe nem mais as chances de algum piloto querer ser agressivo para passar por dentro naquela parte quando estiver em mais velocidade.

Por conta disso, e de várias outras coisas, a Indy teve que mexer nos pauzinhos e resolveu liberar uma medida significativa de downforce para a corrida deste domingo. Porém, não espere que seja nivel Fontana 2015, ou até mesmo as corridas que tivemos há alguns anos, com a chegada no photofinish de Graham Rahal vencendo a prova. Estes são apenas lapsos de um mundo ideal que gostaríamos de vivenciar.

Mas McLovin disse que sente o carro mais interessante do que o ano passado. Lembremos de que a única diferença em teoricamente do ano passado para cá seria o downforce. Então, não espere que seja um desastre como foi, por exemplo, mas mantenha as expectativas lá embaixo, pois nenhum dos pilotos resolveu testar o lixamento pós PJ1. O próprio neozelandês disse que tirou o pé quando iria ultrapassar um piloto, justamente para evitar passar por cima do produto. Ninguém vai querer ser cobaia.

Tanto que a Indy cogita até fazer uma sessão especial de treinos no sábado para uso somente da segunda linha. Seria uma sessão progressiva, em que os pilotos começam de uma velocidade pré-definida, para sentir como está o carro passando por essa linha.

Dito tudo isso, podemos dar ainda mais uma chance para o TMS? A Indy está tentando de tudo e dando várias, mas no fim, são as crianças que sempre escolhem.

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