Vida longa ao bump-day
Essa semana, um debate sobre colocar ou não mais do que a tradição de 33 carros em Indianapolis, um número que não é por acaso, causou uma alternativa quanto a este problema: retirar o bump day. Ou seja, banir com o corte na classificação para classificar automaticamente todos os, por enquanto prováveis, 37 carros no grid.
Para alguns, essa é a alternativa correta, para outros, como eu, não. Vou lhe explicar o porquê, em três atos (aconselho preparar um lanche para ler):
Para o argumento de que seria injusto num mundo que busca por equilíbrio hoje existir essa regra de corte para limitar o grid para 33, lhe trago o seguinte fato: O socialismo não funciona em corridas. Se é bom ou ruim, o fato é que você não consegue vender essa ideia dentro de um mundo competitivo. No automobilismo, por exemplo, não há pobres que buscam todo dia pôr sua comida na mesa, necessitando de ajuda externa. Estamos falando de um mundo onde milhares e até milhões de dólares são injetados e investidos, para se chegar à frente.
Até mesmo a menor equipe na Indy não iria desistir de se classificar caso não consiga entrar neste ano. É um estilo de vida que suporta essa pequena busca por ego, que é traduzida na forma de vencer os demais, mesmo que para estes pequenos seja apenas para ter este sentimento de fazer parte do grupo dos mais ricos, como são as grandes equipes.
Também lhe trago o seguinte número: Jay Howard, último colocado na corrida do ano passado, ganhou U$200,305. É mais de meio milhão de reais. Se por um acaso o grid do ano passado tivesse mais quatro carros, e uma décima-terceira fila, este prêmio final iria aumentar ou diminuir? O prêmio para o vencedor seria maior ou menor? Lembrado que o valor arrecadado do público que vai ao oval não iria aumentar, e o valor total dos prêmios distribuídos teriam de ser ainda mais repartidos. Quanto mais ganham, menos se ganha. É uma regra básica da economia.
Por último, lhe trago a seguinte discussão: Se num futuro próximo, com essa quebra da regra de 33 carros, as tradições não fossem tão seguidas assim, "afinal o mundo é feito por adaptações"? Talvez as 500 milhas não precisassem ser 500, poderiam talvez ser mais! 510, 520 com o green-white-checkered, ou até menos, 400, pois não haveria mais a necessidade de se gastar tanto com o equipamento. Talvez os 33 carros poderiam ser muito bem 39! Ou 30, ou até mesmo 27. A regra é livre.
O que é mais interessante, é que não se falou em nenhum momento sobre essa entrada de mais carros no grid quando, em 2013, Michel Jourdain Jr. foi o único piloto a não correr enquanto todos os outros estiveram na apresentação logo antes da corrida. Em 2011, foram incríveis sete carros fora (até com a compra de uma vaga no grid pela Andretti). Onde estava esse pessoal todo?
A Indy 500 é a única corrida dentro da tríplice coroa que ainda existe no mundo em que você se classifica por mérito. A Daytona 500 foi arruinada por starts and parks e pilotos improvisados (aliás, quando foi a última vez que ela colocou 43 carros depois de banir essa regra de 43 no grid?). Nas 24 horas de LeMans você automaticamente está classificado. Não precisa se preocupar que talvez você esteja fora porque seu carro é ruim. O que manda lá é a resistência (vide o que rolou com os Toyotas alguns anos atrás). Repito, a Indy 500 é a única, dentro das grandes corridas a motor que existem nu mundo, em que você se classifica por mérito.
Não sou extremista. Não quero ser. Essa regra faz parte do charme das 500 milhas. Em um ecossistema frágil e delicado como esse no mundo de hoje, em que a ostentação ou as competições não tem mais tanto espaço, e logo vão se esvaindo (porém o ego continua tão forte como nunca), quebrar uma regra clássica dessas pode ter o seu preço no final das contas. A tradição extrema de Indianapolis é o que traz patrocinadores, pessoas para dentro do oval, e os milhões que assistem pela tv a ver três horas de carros andando em círculos para ver quem é o melhor deles.
Por último, para uma curiosidade. Os anos em que mais de 33 carros fizeram as 500 milhas, foram os anos mais apocalípticos da história da Indy, logo após duas grandes cisões (o último há pouco mais de 20 anos). Não queremos voltar a estes belos anos, não?
"O sentimento pelo autor do texto não expressa inteiramente a opinião total dos membros do site.

Um comentário:

  1. Bela colocação no texto. Indy ainda é a única que tu entra por métiro (pelo menos tendo mais de 33 carros inscritos). Então não pode quebrar essa regra.

    ResponderExcluir