Se existe um piloto da nova geração que causa uma grande divisão de opiniões entre os fãs da Indy é Sage Karam, e se existe um grupo que dividia opiniões no K-pop é o T-ARA.


Gostaria de pedir desculpas antecipadamente ao leitor desavisado. Esse é um texto que misturará duas coisas imisturáveis: Fórmula Indy e Música Pop Coreana, ou K-pop. Eu gosto de uma banda de K-pop chamada T-ARA, e elas se separaram essa semana e, por esse motivo, vocês terão ao incrível oportunidade de me ver falando sobre elas e sobre Sage Karam ao mesmo tempo.

Para explicar melhor a semelhança com os dois, primeir explico o que foi o T-ARA:

T-ARA era uma banda peculiar em se tratando da cena pop asiática, criado em 2009, tinha a ideia inicial de pegar seis moças que não sabiam dançar ou cantar, treiná-las por três anos e estreá-las na cena pop. O resultado foi desastroso no sentido profissional: as atuações delas em palco eram cheias de lipsync (elas apenas mexiam os lábios enquanto a música tocava), coreografias muito simples e músicas mais simples ainda, como pode ser acompanhado no vídeo abaixo:


Para completar, as moças integrantes do grupo adotaram uma postura mais bad girl: onde destratavam os paparazzi que as seguiam e nem sempre se mostravam muito respeitosas a seu próprio público, principalmente após shows. Uma posição avessa ao que todos os grupos Pop, seja do Japão ou da Coreia, adotam.

Apesar de tudo, o primeiro ano do grupo foi bom e ele fez sucesso em 2009, mesmo com críticos e imprensa tratando cada vez mal o T-ARA, suas integrantes e sua música. O grupo continuou com sua mesma linha e, continuava cada vez mais crescendo até 2012, quando aconteceu um escândalo. 

Os atentados contra Hwayoung: um pseudo-tapa
no rosto (primeira imagem) e ser forçada a comer
arroz em outro porgrama.
Em 2010 o uma cantora nova, Hwayoung, foi contratada para entrar no time com rapper (sendo que já haviam duas rappers no grupo) e, entrando num grupo com um ano de amizade e como terceira rapper, Hwayoung quase não tinha linhas de canto solo e dança. Após um ano e meio de pouco destaque da novata, Hwayoung colocou em seu blog pessoal (era 2011, as pessoas faziam isso) que se sentia cada vez mais sozinha e que não conseguia se enturmar. Com as moças do T-ARA agindo cada vez mais como bad girls, logo as pessoas da internet e a mídia toda decidiram que as meninas estavam FAZENDO BULLYING com Hwayoung. No decorrer do ano foram colhidas várias evidências desse bullying, como uma vez que uma das integrantes mais velhas não a cumprimentou ao entrar em um programa de auditório, ou outra vez que o guarda-chuva de outra integrante mais velha bateu no guarda-chuva de Hwayoung e ambos quebraram. Isso continuou até junho de 2012, quando Hwayoung apareceu de muletas por ter torcido o pé num dos ensaios mas os médicos a liberaram para fazer shows após constatarem nada em seu pé, Hwayoung continuou não aparecendo nos eventos do grupo por quarenta dias até seu contrato ser anulado.

As pessoas fãs de K-pop e a imprensa imputaram logo a culpa da saída de Hwayoung nopróprio T-ARA e seu "bullying". Com isso, a maioria dos comerciais que tinham elas como atração foram retirados do ar, shows foram cancelados e até um dos programas coreanos retirou a música delas que servia de abertura. O próximo single delas, que vendiam em média mais de mil cópias na primeira semana, vendeu icônicas 357 unidades em um mês. T-ARA estava morto na Coreia, por isso se voltou para a China, e fez várias músicas de sucesso por lá, com uma ou outra música lançada na Coreia, até o grupo acabar esse ano.

O mais engraçado disso tudo é que todo o pseudo-bullying infligido à Hwayoung foi desmentido pela gravadora em 2015: Hwayoung não tinha se machucado, haviam mensagens de todas as outras integrantes do grupo dando força para ela melhorar e o clima sempre foi bom no backstage, segundo os produtores e as pessoas que trabalhavam mais perto do T-ARA, mas nada disso importou e o grupo sempre foi culpado por algo que não fez.

Qual a semelhança com Karam? Bem, o caso de Karam é quase O INVERSO da carreira de T-ARA. 

O piloto natural de Nazareth subiu rapidamente pela Road to Indy, passando do kart para campeão da Indy Lights em quatro anos, no final de 2013. Mas, apesar do moço de dezoito anos recém completados se mostrar muito bom nas categorias de base, nenhuma das equipes no certame tinha intenções de contratá-lo para a temporada seguinte da fórmula Indy, isso porque as equipes não queriam contratá-lo por ser muito jovem na época e, com a Indy Lights dando bem menos premiação que dá hoje em dia, Sage Karam quase não tinha apoio financeiro e muitas equipes vinham enfrentando dificuldades nesse departamento.

Creio que a maioria dos fãs da Indy ouviram falar de Karam ainda nessa época, pois muito se fez campanha para que ele entrasse na fórmula Indy e muito se comentava do absurdo que era "o campeão da Indy lights da temporada passada não entrar na fórmula Indy desse ano". A maioria dos veículos, como RACER e Motorsport.com, junto com vários fãs da categoria na Internet, juntaram-se no coro para ter Karam na Indy.  No fim, Chip Ganassi comprou a briga, parcialmente. Karam entraria para a Ganassi, mas apenas em 2015 na Indy, correndo no USCC (atual IMSA) em 2014 para ganhar mais quilometragem e experiência. Exatamente o contrário do que aconteceu com o T-ARA, quandoa opinião pública foi contra desde o início.
Sage Crasham.
No ano retrasado, finalmente veio a chance de Karam brilhar, e não foi bem isso que aconteceu. Ele, então com 20 anos, teve muito trabalho na adaptação com o carro e, como resultado, ia mal tanto nas qualificações quanto nas corridas. As dificuldades financeiras também apareceram, e Chip Ganassi teve que vender o #8 de Karam para Sebastian Saavedra em quatro provas. a primeira vez que o #8 conseguiu largar entre os dez primeiros e também a primeira vez que o carro terminou a prova no top 10 foram com o próprio Saavedra e, com exceção dos Top-5 em Fontana e Iowa, Sage Karam não conseguiu terminar entre os dez primeiros em nenhuma outra das dez oportunidades. Foi uma temporada ruim, e uma temporada ruim para um piloto sem aporte financeiro fica extremamente difícil.

Karam saiu da Ganassi para dar lugar a Max Chilton, e a decisão de Ganassi atiçou a ira da opinião pública, alegando que, como Robin Miller escreveu, "Ganassi deu apenas meia chance a Karam e agora nem isso" e que, como Pruett escreveu, "Chilton e Saavedra no #8 haviam consolidado o carro da Ganassi como um assento sempre à venda". 

No fim, como a internet e a mídia são bem menos influentes na Indy do que no K-pop, nem Ganassi nem Chilton tiveram que ir para a China refazer suas carreiras automobilísticas, nem Karam voltou para uma temporada completa da Indy. Chilton ainda está na Indy, progredindo, a passos lentos, mas progredindo, um progresso que apenas um bom suporte financeiro pode prover no automobilismo. Ele, Charlie Kimball e a NTT Data vem conseguindo sustentar a Ganassi até então e evitaram a ida da equipe pra China, e a opinião pública logo esqueceu dessa contenda, trazendo um final feliz para Chip.
Karam correndo atrás da Indy novamente.
Enquanto isso, Karam vem aprontando das suas na IMSA GT3, dividindo carro com Scott Pruett e sendo companheiro de equipede Jack Hawksworth (aposto que pelo menos um desses dois nomes você deve conhecer). Seu estilo de pilotagem pouco mudou desde o campeonato da Indy Lights; ele continua muito rápido e com um bom ritmo de treinos, mas, vez ou outra, ainda faz um movimento de ultrapassagem ou volta rápida que se torna questionável quando não dá certo. Além disso, ainda faz sua aparição anual na Indy 500, onde se qualifica no meio do grid, faz uma aparição no grupo da frente e bate/abandona.

Apesar de ter tido "meia chance" na Indy e de ter a opinião pública a seu lado, Sage Karam apareceu e foi. Reaparecimentos acontecem, como mostrou James Jakes, Ryan Briscoe e até Sebastian Saavedra, mas, para isso, é preciso algo que ainda não esteve em sua carreira: dinheiro.

Mas por que quando o público esteve contra T-ARA a banda "morreu" para o K-pop, mas quando a opinião pública esteve a favor de Karam e contra a Ganassi o piloto americano não triunfou?

Pode ser por causa do tamanho da influência da Ganassi no automobilismo ou porque nem todos estavam tão contra a equipe, mas, para mim, o principal fator ainda é o fã de automobilismo. Esse é um dos esportes mais capitalistas, mas ainda tem um público quase todo romântico e idealista. O público de automobilismo ainda não descobriu que sua voz não e levada emconta enquanto esse não consome (leia-se: gasta dinheiro) com a equipe ou a categoria que asssite e apoia, permanecendo passivo a tudo que acontece. 

O caso de Sage Karam é o exemplo perfeito dessa passividade do fã de automobilismo. O que faltou para ele entrar em uma equipe é claríssima falta de dinheiro e patrocínio, e a comunidade que gostava de Karam ou queria ver um piloto campeão da Lights ainda estar na Indy, ao invés de ajudar financeiramente, apenas bateu panela, e o resultado foi esse que vemos.

Pelo menos em uma coisa o público que ama K-pop está a frente do público que ama Indy: mesmo quando não estão certos, eles sabem como e quando fazer suas vontades serem ouvidas.

2 comentários:

  1. Creio que se Karam permanecesse mais uma ou duas temporadas na Lights, e com o sistema atual que premia melhor o campeão, talvez ele estaria no grid hoje...

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    1. Ou talvez se ele tivesse andado melhor na oportunidade que teve.

      Mas agora fica um bocado mais difícil ele voltar.

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