Um bom reflexo da relação da Indy com o Brasil e com o brasileiro é por meio da televisão. Vejamos como a Indy passou pelo nosso país durante todo esse tempo. 


Existem poucas relações tão fortes na sociedade brasileira como o seu povo e a TV. A popularização do aparelho, que caiu no gosto brasileiro, em conjunto com a variação de programação e o constante feedback dado pela IBOPE por meio de pontos de audiência, criado em 1988, criou uma simbiose entre os programas de TV e o brasileiro médio. O esporte não fugiu disso, e no meio disso tudo está o automobilismo.

As transmissões começaram com a Formula 1, em conjunto coma estreia de Emerson Fittipaldi na categoria, nos anos 70 pela Record, mas começou a decolar realmente quando passou para as mãos da Globo, em conjunto com a extinta TV Tupi, para tapar um buraco de falta de programa no horário nas manhãs de domingo, em 1976. Vendo que o esporte já tinha alguma visibilidade nessas paragens, vide GP do Brasil e equipe brasileira encabeçada por Emerson Fittipaldi, as transmissões passaram a ser assíduas, atingindo o clímax de serem transmitidas todas as provas do campeonato de 1980.

A partir daí começou um sistema que se retroalimentou por décadas. Os brasileiros gostavam da Formula 1 e da transmissão, que aumentava a exposição e os investimentos do país na categoria, que criava mais fãs e faziam aumentar ainda mais os investimentos e assim por diante.

Com o passar do tempo e a repetição da fórmula que deu certo por décadas, criou-se uma cultura de transmissão, levemente modificada das transmissões feitas pelo futebol, com grande base em patriotismo (segundo alguns, beirando o ufanismo) e muito protagonismo/antagonismo, que se tornaram característicos de todo esporte transmitido na época.
Emerson Fittipaldi vestido de rosa foi a primeira impressão do Brasil na Indy e da Indy no Brasil.
Seja por tentar repetir a receita que deu certo na ocasião, pelo hábito do brasileiro, ou pela similaridade das primeiras equipes de transmissão com o trabalho realizado pela Globo na época, o início das transmissões da CART foram realizadas nos mesmos moldes. A primeira transmissão ocorreu nas 500 milhas de Indianápolis de 1984 e veio por meio da família Fittipaldi. Na ocasião, Emerson Fittipaldi estreava em Indianápolis pela modesta WIT/GTS Racing, e seu pai, Wilson Fittipaldi, o Barão, narrava a transmissão brasileira.

Aquele foi o começo das transmissões da CART no Brasil, também via Rede Record. Entretanto, já no ano seguinte, a atração passou para a Rede Bandeirantes, a primeira casa real da Indy/CART. Durante o os nove anos da primeira passagem da categoria pela emissora dos Saad, a fórmula das transmissões feitas pela Globo no fim dos anos 70 foi repetida pela Bandeirantes, tentando se aproveitar da febre automobilística que veio com o sucesso da Formula 1 no Brasil. A rede era conhecida como "o canal do esporte" na época, cobrindo alguns esportes e até grandes eventos, como os jogos olímpicos de 1984; então transmitir o automobilismo de monopostos, que estava entrando aos poucos no gosto do brasileiro, fazia grande sentido, englobando ao gigantesco Show do Esporte, que consumia dez horas de programação da emissora no domingo.

Entretanto haviam dois problemas. Um intrínseco a própria emissora, que detinha poucos alcance sobre o país, principalmente nas regiões Nordeste e Norte, onde seu alcance muito pequeno e se restringia a alguns grandes centros no fim dos anos 80 e início dos anos 90. A Bandeirantes chegou em Brasília apenas em 1987 e em Natal apenas em 1990, e com isso sua visibilidade não era tão grande na época, com poucas pessoas vendo e com uma imagem sem muita qualidade.

O segundo ponto era a competição com o futebol e outros esportes, um problema que assola até hoje as transmissões da prova. Diferentemente da Fórmula 1, que frequentemente corria no domingo de manhã a grande maioria de suas provas, os dias e os horários das corridas da Fórmula Indy são bem diferenciados e espalhados pela tarde do domingo (ou madrugada, no caso de corridas na Austrália). Isso dificulta a fidelização do público, que tinha dificuldade em saber em que horário a próxima corrida ocorreria se o evento não fosse bem anunciado e, além disso, comumente coincidia com as transmissões de partidas de futebol, que a rede Bandeirantes transmitia esporadicamente (tanto de campeonatos internacionais, como o Campeonato Espanhol e o Campeonato Italiano, quanto amistosos da seleção brasileira). Assim, os campeonatos da Indy não raramente eram transmitidos em partes, ficando mais difícil a fidelização com o público que acompanhava a fórmula um rígida em seus horários.

Mesmo com todos esses impecilhos, a Fórmula Indy crescia aos poucos nesse país tupiniquim. Apesar de esporádicas, as transmissões seguiam à risca a fórmula cunhada pela rede Globo nos anos 70 e 80, e os experientes Luciano do Valle Edgard Mello Filho e Willy Hermann faziam qualquer transmissão ser memorável, como a Indy 500 de 1989:



O bom momento de Emerson Fittipaldi  e a própria abertura maior da caetgoria ao público estrangeiro no fim dos 80 e início dos 90 ajudou a trazer mais brasileiros. A categoria ia ganhando mais visibilidade, tanto dentro da emissora como fora dela. O brasileiro estava ávido por mais automobilismo, com transmissões de várias categorias na TV brasileira e, como a CART era a categoria mais parecida com a Fórmua 1, a mesma aparecia nos noticiários e tinha até compactos esporádicos dentro do Globo Esporte, como esse aqui, da corrida em Phoenix em 1990.

E, como tudo que cresce dentro da rede Bandeirantes, a Indy se mudou.

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Formula Indy na Manchete.

No final de 1992, a CART se mudou da Bandeirantes. A Manchete, que era e deixou de ser e depois era de novo da família Bloch vinha passando maus bocados, com uma forte crise financeira que levou até a greve de funcionários e a saída do ar do canal no dia 15 de fevereiro de 1992. Um dos detentores dos direitos de transmissão da Indy, junto com Emerson Fittipaldi e Willy Hermann, tinha interesses na emissora, e acabou trazendo a transmissão do campeonato da Fórmula Indy para tentar alavancar novamente o canal.

A Manchete transmitiu a Indy por apenas dois anos, mas a ida da CART para a emissora foi um passo a frente em todos os quesitos. A transmissão e a divulgação ainda eram parecidas com as praticadas pela Bandeirantes, mas algumas coisas fizeram tudo parecer diferente:

Primeiramente, a temporada de 1992 e a pré-temporada de 1993 atraiu muito as atenções de brasileiros e fãs de Fórmula 1.
  • Emerson Fittipaldi fez uma boa temporada em 1992, mas fez uma excelentíssima segunda metade de campeonato, quando seu carro Penske cansou de quebrar tantas vezes e o brasileiro finalmente percebeu que ele precisava completar mais provas para ser campeão de novo; Emerson ganhou três das últimas seis provas do campeonato de 1992 e Roger Penske prometia que vinha mais porque seu próximo carro seria o melhor da equipe dos últimos anos. 
  • Nelson Piquet, que adorava tirar sarro e tripudiar em cima da Indy, pretendia correr a Indy 500 mas acabou se acidentando feio e seu orgulho só não ficou mais machucado que suas pernas; então, o brasileiro prometia voltar ao circuito nem 1993 disposto a mostrar quem manda.
  • Nigel Mansell, que, depois de uns par de anos de Williams e Ferrari, se sagrou campeão da Fórmula 1 em 1992 com um monte de vitórias e depois saía brigado da sua equipe e da categoria, entrando na Newman/Haas Lanigan Racing para a etapa da CART do ano seguinte. 
  • Ayrton Senna fez um teste privado com a Penske em Phoenix no fim de 1992. E o fato de Ayrton Senna ameaçar deixa a Fórmula Um para entrar na CART atiçou a curiosidade do brasileiro na categoria americana de monopostos.
Ou seja, todos os acontecimentos da segunda parte da temporada da CART e da pré-temporada de 1993 seriam grandes atrativos para qualquer brasileiro patriota (o que era um sinônimo, já que em 1991 até 1994, especialmente, o país viveu uma grande onda de patriotismo) que curtisse Fórmula Um. Ao contrário da própria Fórmula Um, onde a temporada de 1992 jogou um balde de água fria nos ânimos da maioria dos telespectadores com corridas ansiolíticas.

Cada vez mais e mais brasileiros descobriam a existência e eram atraídos pela CART e, diferentemente de quando era transmitida pela Bandeirantes, permaneciam intererssados na categoria. Isso porque, apesar de muita coisa parecida, a Manchete fez mudanças no modo de transmitir.

Primeiramente, o canal transmitia todas as provas ao vivo (ou, pelo menos, todas aquelas que o satélite da Embratel permitia) e com um sinal consideravelmente melhor. Isso é importante pois a principal questão que inviabilizava a CART e inviabiliza a Indy até hoje no Brasil é o horário, por ter de competir ou até mesmo não ser transmitida em detrimento de partidas de futebol. Quando a emissora em questão decide que ambos os fatores não inviabilizam a transmissão de todas as corridas e divulga decentemente os horários e acontecidmentos da categoria via boletim semanal, o ponto negativo se torna positivo, pois as pessoas assistem mais televisão (e mais corridas nelas) à tarde do que de manhã.

Em segundo lugar vem narradores e comentaristas. A Manchete decidiu apostar nos jovens Téo José na narração, com comentários de Dedê Gomes e Luis Carlos Azenha. Não venho por meio deste dizer que Luciano do Valle e Edgard de Melo Filho não são grandes lendas da narração esportiva, mas eles repetem a mesma escola de narração, com informações mais superficiais e repetitivas, destinadas a toda e qualquer pessoa que esteja ali no momento entenda e acompanhe a transmissão. Mas esse não era o caso do brasileiro que assistia a Fórmula Um e passou a acompanhar a Fórmula Indy. O público já tinha um certo conhecimento de carros e corridas e estava ávido por mais informações sobre tudo aquilo que estava vendo, e uma coisa que Téo, Dedê e Azenha faziam bem eram dar informações com uma mistura de patriotismo controlado.

Com todas essas combinações, a CART e suas transmissões decolaram na Manchete. As primeiras provas da categoria em 1993 mal alcançavam três pontos mas a corrida final de 1993 já chegava aos seis pontos de média.

Em 1994, a Manchete manteve a equipe e o modo de transmissão para o ano seguinte, engajando cada vez mais os seus telespectadores. Apesar da temporada um pouco mais morna a audiência se estabilizou nos seis pontos de média, o que não é nada mal em um ano com copa do mundo e, enquanto todos estavam vendo a final da Copa do Mundo e gritando "É tetra" a CART corria em Toronto.

A Fórmula Indy vinha criando uma febre entre o nicho dos automobilistas e mudou de ares na TV brasileira.

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Fórmula Indy/Mundial no SBT
Era o fim de 1994 e, poucos messes antes, tínhamos perdido Senna. A tragédia de maio devastou não só o coração de uma miríade de brasileiros, mas também o ânimo deles em assistir Fórmula Um. A falta de Senna (e aqui não digo apenas do piloto em si, mas de alguém para substituí-lo, ou a alcunha que assombraria todo e qualquer brasileiro que entrasse na Fórmula 1: o "novo Senna") e as corridas ainda cobertas por uma camada de tédio.

Outro fato consumado naquela época era a briga pela audiência entre a Rede Globo e o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT para os íntimos). Desde o início da medição da audiência pelo IBOPE, nos idos de 1988, a Globo despontou suprema na audiência, restando as outras emissoras brigar por migalhas até 1994, quando a SBT começou a também despontar a frente das outras. Ainda havia um ano-luz de audiência entre Globo e SBT, mas a emissora de Sílvio Santos estava disposta a entrar na briga, e o movimento mais simples e óbvio para conquistar algo que uma empresa tem em abundância é copiá-la. Assim, a emissora passou a copiar a Rede Globo nos programas em que ela obtinha as maiores audiências, e vimmos uma profusão de programas de auditório e novelas e suas reprises. Na mesma onda, no fim de 1994, a SBT comprou os direitos de transmissão com Emerson Fittipaldi e seus sócios, e obtendo um grande rival para as corridas de Fórmula 1.

A SBT não só comprou os direitos da categoria, como deu uma grande guinada na cobertura da mesma. Apesar de alguns rumores da SBT tentar contratar Galvão e Regi, trouxe junto com os direitos os três narradores/comentaristas da Manchete e também o modo de transmitir, com a fórmula de exaltação ao brasileiro mas com boas doses de informação. Entretanto, seja pela maior exposição da categoria ou não, a CART no SBT parecia bem mais intensificada, com patriotismo e maior informações da categoria sendo intensificadas na emissora de Silvio Santos. A cobertura da CART se estendia o quanto possível dentro da programação da SBT, com reportagens em praticamente todos os programas de esportes e jornalismo, além de dois boletins semanais sobre a categoria. A SBT também elevou o nível do brasileirismo fazendo desse o grande gimmick da CART: "aqui tem sempre brasileiro na frente".

A fusão desses dois ingredientes funcionava como uma verdadeira armadilha para brasileiros que gostavam de automobilismo. O camarada que gostava de automobilismo mas estava desiludido com todo o circo da Fórmula 1 e estivesse dando bobeira, passando de um canal a outro, encontraria uma categoria com grandes similaridades (como a CART estava em 1995) e se empolgava com exaltação ao brasileiro mas, aos poucos, era envolvido por uma categoria cheia de meandros e informações. Daí para acompanhar com assiduidade e a categoria ter mais um fã era um pulo. Hoje em dia é bem mais fácil se fazer esse trajeto, não é necessário nem o fator do brasileiro vencendo, basta gostar do que se vê em um vídeo em rede social, no Youtube ou em stream mesmo, daí basta buscar na internet as informações sobre a categoria, por meio dos milhares de sites voltados ao automobilismo em geral ou aos poucos voltados para uma categoria em específico (como esse). Com o advento e a popularização da internet, tudo isso é mais simples, mas em 1995 soava impossível fazer isso via TV, mas a Manchete e o SBT conseguiram fazer isso com a CART em três anos.
SBT vendendo ingressos para a primeira corrida no Brasil.
Os grandes frutos dessa qualidade de transmissão foram colhidos, principalmente, em 1996. O lobby feito junto à prefeitura do Rio de Janeiro ajudou a remodelar o autódromo Nelson Piquet, em Jacarepaguá e a trazer uma prova da temporada da CART daquele ano. 

Toda a animação com o brasileiro na categoria atingiu até nos EUA, com algumas empresas investindo nos carros da categoria: a LCI, a Hollywood, a Alumax e culminando com a Brahma sendo patrocinadora master da Team Green, que virou Brahma Sports Team.

Isso tudo refletiu na audiência da categoria no Brasil. Nos dois primeiros anos as transmissões atingiram média de doze pontos, atingindo picos de mais de vinte pontos no IBOPE na Rio 400 e na US500. Criou-se uma grande comunidade de aficcionados, que sabiam não só o básico da categoria, como também as várias combinações de chassi/motor/pneus/patrocinador de vários dos pilotos (conheço gente que sabe até hoje a maioria das combinações).


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Combo do desespero dominical: Carla Perez e Domingo Legal.

Mas haviam dois grandes problemas com as transmissões:

Primeiro, o tema dessa série gigantsca que não acaba nunca: a cisão. Com a cisão entre CART e IRL, Tony George negociou os contratos de sua nova categoria com os detentores dos direitos da CART, a fim de competir mais diretamente com a categoria dos diretores de equipe, e assim Fittipaldi, seus sócios e a SBT também detinham os direitos da IRL. Entretanto, seja por falta de espaço na programação de fim de semana da SBT ou por lobby do próprio Emerson Fittipaldi, que ainda disputava a CART naquele ano, as duas primeiras etapas do campeonato da IRL foram transmitidas em VT à uma e meia da manhã de segunda-feira. Por esse motivo, a IRL entrou em ação contra a Fittipaldi para ter seus direitos de volta, a Fittipaldi e seus sócios não dificultaram e Tony George rapidamente negociou os direitos para Willy Herman e a Image Net, que os passou para a rede Bandeirantes novamente.

Com isso, a Bandeirantes acabou transmitindo as 500 milhas de Indianápolis, enquanto o SBT transmitiu todas as corridas da CART aquele ano, e os brasileiros não notaram tanta diferença assim, pois, para nós, que estávam distantes o suficiente da maioria das ações das 500 milhas de Indianápolis e víamos apenas a prova em si, a perda da Indy 500 e de alguns pilotos que vimos apenas figurar o fundo do grid enquanto a CART foi transmitida no Brasil, a perda deles não foi tão impactante quanto nos EUA. A única mudança mais palpável foi a mudança de nome da CART no Brasil, pois agora haviam duas Fórmula Indy e, com isso, a CART no Brasil mudou para o horrível nome de Fórmula Mundial. 

A transmissão da IRL pela Bandeirantes sempre foi muito esparsa por motivos da própria categoria, que corre apenas em ovais, com intenso pack racing e sem grande presença de pilotos brasileiros pela briga da vitória; assim, a IRL não tinha apelo para os brasileiros e a Bandeirantes nunca investiu na categoria até o fim do grande movimento migratório das equipes e, por consequência, dos pilotos brasileiros.

O segundo maior obstáculo estava dentro da própria SBT. A transmissão das corridas da Fórmula Mundial, em sua esmagadora maioria, acontecia no domingo à tarde, concorrendo diretamente com o Domingo Legal. O Domingo Legal era um programa de auditório que estreou em 1993, era transmitido geralmente antes das corridas da Fórmula Mundial e cresceu bastante sua audiência entre 1994 e 1997, conseguindo marcar em média de quinze a vinte pontos de audiência. O programa era transmitido, tipicamente, da meio-dia até as transmissões da Fórmula Mundial iniciarem, ficando uma boa parte do tempo fora do horário nobre da TV no domingo.

Foi aí que começou a briga mais bizarra da história da CART: o Fórmula Mundial X Domingo Legal no Brasil. Ambas queriam o horário nobre de domingo à tarde para si, com o programa de Gugu e Magrão tendo grande audiência e querendo o horário para si para conseguir ainda mais audiência competindo diretamente com seu maior inimigo no planeta Terra: o Domingão do Faustão; já a Fórmula Mundial não tinha tanta audiência quanto o Domingo Legal, mas tinha o argumento de ter de passar suas corridas ao vivo para manter a boa audiência e o interesse dos brasileiros, pois passar corridas em VT, ainda mais fora do horário mais visto por todos, faria todo o trabalho de criar um público e uma cultura da CART no Brasil ir para o vinagre. Sílvio Santos escolheu os dois. Assim, o Domingo Legal passaria a ser exibido do meio da tarde até as sete horas da noite mas, nos fins de semana com corridas da CART, o programa seria dividido em duas partes, para que a Fórmula Mundial entrasse e fizesse sua transmissão.

A mudança foi feita no fim de outubro, quando a temporada da CART já tinha se finalizado. O Domingo Legal, com a banheira do Gugu, provas de celebridades e suas derivações fazendo provas com cunho ou levemente vexatório ou sexualmente sugestivo salpicado com Otávio Mesquita acordando os famosos, Netinho de Paula vestido de príncipe, ET & Rodolfo andando por aí e Gugu fazendo os disfarces mais bem feitos no Taxi do Gugu. Desde a primeira semana o programa passou a frente do Domingão do Faustão, alcançando no último trimestre uma audiência média de mais de 21 pontos, quatro a mais que o programa comandado por Fausto Silva e seis a mais que a Fórmula Mundial aquele ano.

Em meados de março de 1998 começaram as transmissões divididas e foi aí que toda a sorte da Fórmula Mundial acabou. Apesar da qualidade de narração e imagem se manterem inalterados, as transmissões das provas passaram a ser um pouco mais corridas, a maioria das vezes sem o pré ou pós-corrida que era típico em outros anos, deixando todos os bastidores para os programas esportivos.

A concorrência, no fim, foi desleal em várias circunstâncias. Além de vir com uma audiência maior, o programa de Gugu Liberato tinha um maior orçamento e as atrações do programa são sessões que não exigem tantas informações e podem ser feitas de bate e pronto, sem necessidade de background e podem ser feitas repetidamente para sempre, mudando apenas os personagens das sessões em cada programa. As transmissões da Fórmula Mundial, pelo contrário, contavam com menos público e orçamento quando comparados com a atração dominical; e os brasileiros não viviam grande fase na CART, com apenas Maurício Gugelmin conseguindo uma vitória para o país na temporada de 1997 e nenhuma vitória brasileira na temporada seguinte. Mas a maior perda foi o tempo de televisão, pois com menor tempo de transmissão a passagem de informação fica prejudicada, e como esse era o principal diferencial com sua outra concorrente, a Fórmula Um.

Com isso, a audiência da Fórmula Mundial começou a cair sensivelmente durante o ano de 1998, principalmente na etapa em Jacarépagua, quando a organização teve de diminuir o preço do ingresso para semi-lotar o autódromo. As transmissões tiveram uma queda de audiência média de quinze para doze pontos de média. A queda não era trágica, entretanto a Fórmula Mundial perdia cada vez mais para o Domingo Legal, que aumentou sensivelmente sua audiência para 23 pontos de média e ficou praticamente empatado com seu concorrente no horário, o Domingão do Faustão.

Com os resultados um pouco mais desfavoráveis para a Fórmula Mundial, a equipe de produção do programa de Gugu Liberato passa a atuar contra a interrupção do programa em detrimento das transmissões das provas da CART. Ainda no fim de 98 a SBT cortou parte do pessoal das transmissões para as últimas provas, retirando a câmera exclusiva que a transmissão da Fórmula Mundial contava nos circuitos e deixando a transmissão em off-tube, com narrador e comentaristas atuando na transmissão de dentro do estúdo ao invés de mandá-los para os circuitos. Entretanto, a maior perda foi a de Luis Carlos Azenha. No fim da temporada de 1998 a SBT já cortava relações com Azenha, e muito se comenta de desavença entre ele e Téo José, mas todos negam esse rumor. Com isso, as transmissões da Fórmula Mundial já não contavam com o repórter que acompanhava Téo José desde os tempos da Manchete e eram chamados de trio de ouro das transmissões da CART, e agora esse trio estava desfeito.
Nem lembrava que esse programa existiu.
Na temporada de 99 vieram mais dois golpes duríssimos contra a Fórmula Mundial. O primeiro veio ainda nas primeiras etapas do campeonato, quando a produção de Gugu Liberato finalmente conseguiu o que queria e as corridas que chocassem diretamente de horário com o Domingo Legal seriam transmitidas em VTs de uma hora de duração às onze da noite, sendo que, muitas vezes, o Fantástico exibia os resultados da prova antes mesmo dos VTs. O segundo veio na forma de Loira do Tchan, quando Carla Perez assumiu a segunda temporada do programa "Fantasia" no final de 1998 e, posteriormente, o "Canta e Dança, Minha Gente" no fim de 1999, sendo que as duas atrações aconteciam no domingo pouco antes do Domingo Legal.

Com esses dois golpes, não só a qualidade como a quantidade das transmissões foi afetada e, com isso, a audiência começou a cair. As médias de quinze pontos obtidas em 1997-98 caíram para nove em 1999 (somando ao vivo e VT) e para seis pontos em 2000 (audiência somada, novamente). Apesar dos VT serem consideravelmente bem produzidos, com muitos deles passando de uma hora de transmissão, muito da graça e da expectativa se perde no processo e a corrida perde muito de sua magia. Em 2000 apenas seis provas (a abertura em Homstead-Miami e as provas de Surfer's Paradise, Jacarepaguá, Motegi e Nazareth) e em 1999 apenas quatro corridas (Motegi, Jacarepaguá, Gateway e Surfer's Paradise) foram transmitidas. Todas as outras provas, incluindo as finais dos referidos campeonatos, foram transmitidos em VT logo após o programa do Sílvio Santos, próximo das onze da noite no domingo. O ápice foi atingido na etapa final do campeonato de 2000, quando a Malboro 500 presented by Toyota (500 milhas da Califórnia na Fórmula Mundial) foi adiada de domingo para segunda-feira devido as chuvas que caíam na Califórnia aquele fim de semana e, mesmo assim, a transmissão foi feita em VT na madrugada de segunda para terça-feira.

Na temporada seguinte terminava o contrato de transmissão da CART com o SBT terminaram logo em 2000, com Sílvio Santos setirpando toda e qualquer forma de esporte de sua emissora. Na última transmissão, téo José fez a seguinte citação:
Aqui a gente fica com a certeza de missão cumprida, de dever cumprido, que fizemos o melhor para ter isso nas pistas, não preciso citar nomes, vocês sabem a quem estou me referindo.


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Durante a pré-temporada de 2001, muitos ficaram surpresos com a ida da Fórmula Mundial para a Record. Não pela surpresa de ter saído da SBT, isso não era surpresa tendo em vista que, aos poucos, a emissora foi substituindo as transmissões ao vivo de esportes da categoria por programas de auditório, então a saída da Fórmula Mundial não foi grande novidade para os pobres fãs da categoria. Mas a salvação veio das mãos surpreendentes de Edir Macedo. A Rede Racord, vendo que a SBT tinha crescido um bocado desde que decidiu emular a grade da Rede Globo, em meados dos anos 90, decidiu emular a grade da SBT dos anos 90 emulada da grade da Rede Globo e, como ambas tinham automobilismo inclusos, a Rede Record comprou os direitos de transmissão da Fórmula Mundial por dois anos.

A Rede Record parecia uma ótima emissora para ser a casa da Fórmula Mundial, pois, no fim do ano 2000, a emissora tinha apenas filmes, desenhos de criança (pois nem todo desenho é de criança) e a reprise do programa Cidade Alerta exibido no sábado, sendo que a reprise começava após a sete horas da noite, sem atrapalhar os horários das corridas.

No entanto, os mesmos problemas que aconteceram no SBT e na Manchete viriam assolar as transmissões antes mesmo de Oscar Ulisses começar a narrá-las. Isso porque junto da Fórmula Mundial vieram no pacote o novo "Domingo da Gente" com Netinho de Paula e a renovação do "Domingo Show" com Gilberto Barros, o Leão.  Assim, as provas vinham novamente em VTs completos (ou quase isso) encaixado ou entre os dois programas de auditório ou depois deles, antes da reprise do Cidade Alerta.

Mas tudo ainda era promissor. Oscar Ulisses foi contratado para narrar, com seu jeito tradicional de narração esportiva, e André Ribeiro comentava as provas que, apesar dos VTs, eram sempre próximos aos horários das provas e poucos notavam que eram realmente VTs, mantendo a aura de transmissão ao vivo. As corridas eram boas e havia uma miríade de brasileiros na categoria (nas primeiras provas 10 dos 27 carros eram guiados por brasileiros), e todos vinham animados pelo título de Gil de Ferran no ano anterior. Mas a categoria não retomou a audiência obtida nos seus dias mais famosos das transmissões no SBT, e a audiência se manteve nos seis pontos obtidos no canal de Sílvio Santos em 2000. 

Muito dessa manutenção de audiência se deve a perda da prova de Jacarepaguá da temporada da CART. A prefeitura carioca, recentemente assumida por César Maia, julgou muito caro os US$ 5,6 milhões estipulados pela CART para a realização da prova em 2001 e, segundo a prefeitura na época, após uma auditoria, decidiu não pagar mais que US$ 1,2 milhões, que foi o preço pago para ter a prova em 1996. Segundo a CART, foram marcadas três reuniões entre o vice presidente da CART, Tim Mayer, e os representantes da prefeitura, mas em nenhuma delas esses representantes comparecerem e; em uma reunião entre o presidente e vice da CART e o promotor da prova (Emerson Fittipaldi), no dia 20 de Janeiro, foi decidido o cancelamento da prova que tinha data de realização marcada para dois meses depois. Cogitou-se outras praças para receberem a prova, mas nenhuma delas fechou acordo com a categoria que acabou criando altas desconfianças do país tupiniquim. Heitzler, na ocasião, declarou:

"Tentamos de tudo. Não havia outra opção, poderíamos ter achado uma solução, falado com os patrocinadores ou qualquer outra coisa", afirmou. "O que causou o fim da corrida foi a imaturidade do prefeito, que não entende as ramificações de um evento como esse."
Em 2002 veio o Nêmesis da transmissão das categorias de monopostos americanos: o Campeonato Brasileiro. Nesse ano a Rede Globo Revendeu os direitos de transmissão do famoso campeonato de futebol para a Record e, sabidamente, grande parte dos jogos são exibidos no mesmo horário das corridas da temporada da CART, bem como acontece hoje com a IndyCar Series. Com isso, apesar dos bons profissionais ainda trabalharem e manterem os estilo de narração misturando informação e empolgação com pilotos brasileiros (que já eram apenas quatro, mas ainda brigavam por vitórias), a quantidade de tempo que a Fórmula Mundial passava na TV caiu consideravelmente, e a audiência acompanhou a queda para quatro pontos no IBOPE.

Sei que, para alguns, parece estranho toda essa dependência da TV para se entreter a ponto de ser fã de uma categoria mas, creio ser importante salientar que vídeos na Internet não existiam na prática no Brasil. No início dos anos 2000, o que vemos como rede mundial de computadores, na verdade, era um monte de textos, imagens e gifs de bebê dançando. Até a primeira metade dos anos 2000, a forma mais eficiente de entreterimento ainda era a televisão, pois ela era a única capaz de transmitir imagens em tempo real. Apesar de rádio ser bem mais acessível e jornais e Internet oferecerem algo mais opinativo e pessoal, só a televisão conseguia cativar a esse ponto.

Por esse motivo havia grande dependência da televisão de vários esportes mais complexos, como é o automobilismo, principalmente naqueles dias com grandes detalhes de chassi e motor que faziam gigantesca diferença na hora das corridas era quase total até surgir serviços de compartilhamento de vídeos e também de transmissões ao vivo via Internet, na segunda metade dos anos 2000. No Brasil a dependência da TV aberta por parte dos esportes estrangeiros era ainda maior, devido ao atraso da chegada e popularização da TV fechada e da Internet em Banda Larga. Apenas com programas em TV Aberta um evento internacional conseguiria a abrangência e tempo necessários para alcançar o público brasileiro daquela época para esperar o momento e as oportunidades certas, se tornando febre entre nós tupiniquins.

A CART fez muito sucesso no Brasil do fim dos anos 80 até o fim dos anos 90, mas, apesar de tudo, foi mais que uma febre típica de esportes estrangeiros com brasileiros vencendo. Assim como o boxe, o basquete e o vôlei, a CART viveu grandes momentos em nossas terras, sendo adotado como segunda casa da categoria, junto com o Canadá. Isso porque algumas pessoas, como os donos da Manchete e Sílvio Santos, viram o potencial da categoria em rivalizar com a Fórmula Um, que já não gerava emoções tão grandes quanto a categoria de monopostos americanos, e a perda de Senna mais pra frente só fez aumentar o interesse na categoria. 

O brasileiro rapidamente adotou a categoria e invadimos a CART, chegando a receber uma das etapas do campeonato de 1996 até 2000, termos dez pilotos largando em algumas provas e até tivemos uma equipe chamada Brahma. A combinação de quatro pontos: uma categoria com forte apelo, forte e bom trabalho de transmissão e informação, apoio suficiente e oportunidade do momento fizeram a CART crescera olhos vistos e marcar até hoje uma grande parte de pessoas que até hoje sonham com sua volta.

Entretanto, mesmo com a oportunidade do momento ainda existindo e o forte apelo permanecendo na categoria, a falta de apoio suficiente em detrimento de brigas de audiência afetaram o forte e bom trabalho de transmissão fizeram diminuir não o interesse em si, mas a acessibilidade à categoria, fazendo a CART perder tudo que havia conquistado até então. O esforço de se manter visível em outras mídias se tornou inócuo, com a CART e o automobilismo americano voltando a ser nicho em nosso país.


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Assim, saindo dos grandes canais de mídia da TV brasileira, o automobilismo de monopostos americano desapareceu no Brasil em 2003. A Rede Bandeirantes (que já tinha se tornado Band na época) transmitiu a IRL em seus primórdios, quando não só a falta de brasileiros mas as corridas em ovais com pilotos desconhecidos do público brasileiro e corridas não muito animadas ocorriam na categoria; assim, a Band quase não transmitia a categoria ao vivo, devido ao pouco retorno que dava nas raras vezes que era exibida. Depois das 500 milhas de Indianápolis de 2001, a rede dos Saad decidiu não mais transmitir a corrida, e repassou os direitos para a SporTV exibir as provas por dois anos e meio. Sim, a SporTV transmitia todas as provas ao vivo e fazia grande cobertura, mas a TV a cabo ainda não tinha caído no gosto do brasileiro, e as audiências das provas nem eram registradas. No fim do ano de 2002, com a CART falindo e grande incerteza sobre as transmissões e já com dois programas de auditório e jogos de futebol para transmitir, a Record descontinuou as transmissões da Fórmula Mundial, que foram parar na Rede TV! Que, na época, era bem pequena e seu sinal eram transmitidos para apenas nove estados da federação, e a audiência, mesmo dentro da grande São Paulo, raramente passava de um ponto. Com as transmissões da Fórmula Mundial, não foi diferente.

Entretanto, menos de quatro meses depois da última exibição da IRL na Band, Roger Penske anunciava que correria na IRL e iniciou a debandada de grandes equipes para a categoria de Tony George e, para completar a maré de azar da emissora, a Fórmula Mundial não era mais exibida pela grande mídia. Junte isso com uma nova debandada de brasileiros disputando vitórias e títulos na IRL, e você tem um mínimo de apelo e oportunidade para a categoria no Brasil.

Logo, a Band pensou que 2003 era um grande momento para retomar a IRL em sua programação, mas o contrato com a SporTV iria até o fim de 2004 e isso era um problema para a emissora dos Saad. Então, em 2004, aconteceu algo inédito na IRL: ela foi disputada e transmitida por dois canais não ligados entre si. Inicialmente nada foi feito e na pré-temporada para 2004 fez-se uma negociação entre a Image Net (que detém os direitos da IRL no Brasil até hoje, com Willy Herman e Carlos Gancia), a SporTV e a Band, e acordou-se que a categoria seria transmitida ao vivo pela SporTV ao vivo, como manda o contrato, com exceção da Indy 500, que seria transmitida ao vivo pela Band; a emissora dos Saad também transmitiria as outras provas em VTs, durante à noite, e em 2005 apenas Band e Bandsports transmitiriam a maioria das provas da IRL ao vivo.

Téo José também voltava a transmitir campeonatos de
monopostos americanos.
E esse é o acordo que dura até hoje. A Band cumpre o contrato fazendo o Bandsports transmitir todas (ou a grande maioria) as provas ao vivo, enquanto o canal aberto transmite sempre a Indy 500 e os eventos que melhor se encaixam em sua programação. Entretanto, como a Bandeirantes, aos poucos, passou de 'o canal do esporte' para 'o canal do futebol', as transmissões das provas do domingo à tarde quase sempre coincidiam comapeonatos estaduais, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Amistosos ou qualquer outro campeonato onde vinte dois adultos correm atrás de uma bola. Outros impecilhos vieram para as transmissões das corridas de sábado à noite, como o infame 'Show da Fé' que paga dezenas de milhões de reais anualmente para ser exibido em horário nobre e eventos especiais, como a festa de Parintins.

O canal também não consegue tratar melhor a categoria na programação de sua emissora, que consiste basicamente nas transmissões esporádicas, VTs de quinze minutos das provas que não consegue transmitir e informes rápidos durante o 'Jornal da Band' de sábado. A atenção dada à categoria melhorava apenas durante os fins de semana em que a Fórmula Indy visitou o Brasil para corridas entre 2010 e 2013, quando a emissora reservava 24 horas de sua programação na sexta, sábado e domingo para a Indy. No resto do ano e durante todas as outras etapas, a falta de informação e a falta de visibilidade do canal Bandsports complicava a retomada de novos fãs para o automobilismo. Mesmo com a conquista de um campeonato da IRL em 2004 e duas Indy 500, mesmo com Rubens Barrichello fazendo uma temporada completa na categoria e mesmo com um bicampeão da Fórmula Um decidindo correr nas 500 milhas de Indianápolis desse ano, a emissora não conseguiu dar maior atenção à categoria, fazendo todo o conhecimento de muita gente sobre a Indy se restringir a superficialidade ou ao conhecimento adiquirido durante os anos 90.

Apesar da Indy atual ser caracteristicamente diferente da Fórmula Um ou a CART já foram e de o automobilismo tradicional já não estar mais no gosto da maioria das pessoas, o tratamento dado à Fórmula Indy nos últimos dez anos fez com que a categoria se tornasse cada vez mais de nicho. 

O desânimo e descaso, se posso dizer assim, passou das telas da televisão para os vários meios de comunicação, passando para jornais, rádio e até para os grandes veículos de comunicação automobilística da Internet. Viu-se via TV que o público da categoria estava meio que desaparecendo, assim, tornou-se comum aqui no Brasil você tanto ver notas rápidas como simplesmente não ver Indy de meados dos anos 2000 até hoje e, assim, ferramentes que poderiam ser usadas para complementar a falta de transmissão acabam jogando contra ao também não trazer informações e detalhes sobre a categoria. 

Com ambos não dando destaque algum para a Indy, seja para os campeonatos e Indy 500 conquistados por brasileiros na IRL ou pelas várias vitórias conquistadas por nossos compatriotas na Champ Car, toda uma aura de desinteresse foi tomada pela Indy no Brasil. 

Aos poucos, com ajuda de uma comunidade forte que cansou de procurar stream por aí para ver a categoria e que curte a nova fase da Indy, uma nova demanda vem se criando no Brasil e, aos poucos, a mídia vem reagindo a essa demanda e vemos um pouco mais de Indy por aí. Esse ano a Indy tem estado mais em voga na mídia desde quando Rubens Barrichello estreou, no início de 2012, com sete das oito primeiras corridas sendo transmitidas pela Band, aproveitando-se da falta de futebol na grade da emissora, enquanto a cobertura na Internet vem sendo cada vez maior (até o globo.com fez uma grande cobertura da Indy 500, pelo menos). 

Talvez seja o começo de uma nova volta da categoria esteja acontecendo, apesar de não termos mais brasileiros na categoria além dos eternos Tony e Helinho, não termos mais uma corrida aqui no Brasil e a categoria não viver lá seus melhores momentos, as corridas dessa década tem sido muito boas e a categoria vem se mantendo pouco mutável desde então. Isso vem chamando a atenção de um bocado de tupiniquins que sentem falta de corridas mais puras e o fato de muita gente estar gostando da categoria em si e não pelo fato de se ter brasileiros vencendo sempre lá ajude a alavancar as coisas.

Ou talvez eu so seja esperançoso, vai saber...



Obs: a Champ Car passou na Rede TV! Ao vivo até 2004, passando para a SporTV no ano seguinte, já que o canal não transmitiria mais a IRL e procurava uma substituta em sua programação. Isso durou apenas um ano, e a Champ Car migrou para o finado Speed Channel, onde ficou até seus últimos dias. Ela foi chamanda de Fórmula Mundial por todo esse tempo.




Essa postagem faz parte da série "A cisão de 1996" que também conta com:

9 comentários:

  1. Bom, algumas coisas:
    1 - Dizem (e foi aqui mesmo) que a TV Tupi andou transmitindo a Indy 500 nos anos 70, não se sabe ao certo se isso procede ou não.
    2 - A Indy 500 de 1999 e 2000 foi transmitida ao vivo? A de 2000 lembro que não transmitiram e passaram em compacto ao final do dia (nem lembro o que houve) e a de 1999 posso até estar enganado mas tinha tido atraso ou alguma coisa assim, e era a primeira narração do Prieto.
    3 - A Champ Car ainda teve uma ou duas corridas transmitidas na Rede TV! em 2005, que foi até Long Beach.
    4 - A temporada da CART em 2003 foi a maior parte transmitida em VT, exceto a última etapa (da Austrália) ser exibida na íntegra por que não chegou o sinal da transmissão da corrida (isso em meados do século 21).
    5 - A Record fazia apenas o retorno das transmissões, já que em 1984 eles fizeram a Indy 500 na época com o Barão, e ainda com a vinheta que foi usada nas transmissões dos anos 90 "Record, a força do esporte".

    E o futuro das transmissões qual seria?

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    1. Olá Raider!

      1- Bem, a fonte que vi marca as 500 milhas de Indianápolis de 1984 como a primeira transmissão de fato da Indy no Brasil. O que vi sobre a tupi foi que ela, desde 1980, passava reportagens de como foi as 500 milhas daquele ano, mas no estilo Cléber Machado mostrando a CART no Globo Esporte.

      2 - a de 1999 foi exibida ao vivo (apenas ela, Orlando e Phoenix foram ao vivo) e a de 2000 foi em VT domingo à noite (apenas Orlando, Phoenix , Las Vegas e metade de pikes peak foram ao vivo).

      3 - Dessa eu não sabia, e, pelo visto que se reclamava nos fóruns da época, era isso mesmo. A Rede TV! passou uma etapa mas não as demais.

      4 - não foi invertido, cara? E MUITA gente reclamava do sinal das corridas na Rede TV! Teve transmissão que foi interrompida (acho que Vancouver) porque o sinal do satélite estava intratável.

      5 - Sim, exatamente. Desculpe se fiz parecer o contrário.

      Cara, pra mim, pelo menos até o ano que vem, as coisas vão se manter as mesmas na Band. Mas a Band é a Band, uma caixinha de surpresas.

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    2. 2 - a corrida de 1999 passou ao vivo na Band, lembro q no sábado o Robby Gordon e o Roberto Moreno correram em St Loius na CART e no domingo disputaram a Indy 500, Robby Gordon quase venceu. Em 2000 passou em vt e teve "rain delay", o Prieto qye narrou.

      Comecei a assinar a Directv em 2001 e havia um canal exclusivo que transmitia todas as corridas ao vivo com narração do Roberto Figueroa mas as informações de pista era usadas da transmissão ao vivo da Record com o Celso Miranda, ficava esquisito ver a corrida e derrepente entrava a imagem do Celso ou audio dele entrevistando alguém.

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  2. Faz um post falando sobre todas equipes de transmissão seria leghal relembrar repórter comentarista narrador dd cada epoca

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  3. Teve uma época tbm que a Sky passava todas as corridas da CART, era tipo um PPV de corridas, na época era no canal 1 da operadora.

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    1. acho que era em 98,99,2000

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    2. Passava na Directv, sei porque lia nos jornais em que canal passaria. Em 2001 comecei a assinar a operadora e toda a temporada foi transmitida ao vivo com narração do Roberto Figueroa, tambem tinha um comentarista mas não me lembro quem era.

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  4. Sobre os tempos áureos da CART no SBT fui contrário ao que fizeram com a categoria em 98. Quem perdeu com isso foi o público que gostava da categoria e fiquei triste quando o Azenha saiu da emissora depois da corrida de Elkhart Lake e estranhei a mudança de postura a partir de Vancouver quando o Téo José e o Celso Miranda que ficou apenas um ano na função de comentarista tiveram de fazer as últimas corridas de 98 do Brasil ou seja, off tube com o sinal internacional e os gráficos que copiaram da ESPN foram trocados e ficaram aqueles gráficos toscos. Em 99 quem não tinha TV paga tinha que esperar ver a corrida em VT no SBT ou saber antes com Léo Batista no Fantástico quem ganhou a prova isso porque naquele ano as corridas foram transmitidas pelo Sportv em canal alternativo do Premiere.

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  5. Ainda bem que a Cultura melhorou a situação e ainda touxe uma equipe boa (a narração do Gefferson Kern e como comentaristas o Rodrigo Mattar de 2021 a 2022 e atualmente com o Fábio Seixas e a Bia Figueiredo ao vivo de Indianápolis). Transmissão ainda modesta se comparada ao que o SBT fazia nos anos 90, mas ao menos a qualidade da transmissão melhorou, e quem sabe a Indy possa atrair mais fãs com a possível volta da Indy ao Brasil e à Argentina.

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