Quem acompanha as 500 Milhas de Indianápolis há um mínimo tempo sabe da mística que envolve a prova e o circuito. Acompanho diversas categorias, nacionais e internacionais, de fórmula, protótipo, stock, motocicleta... mas apenas no último domingo de maio, às 14h locais, é que vemos uma prova especial, onde, usando o chavão indyanista, “a pista escolhe o vencedor”. 


Helio celebra sua quarta vitória no oval do IMS. (Foto: INDYCAR)


Foyt, Mears, Unser. Nomes que são sinônimo de automobilismo americano,  respeitados em todo mundo, assim como Andretti (que só ganhou uma vez a mítica corrida, mas compensou o azar na pista com um extremo talento em tudo que tinha quatro rodas), Parnelli, Rutherford... E um brasileiro colocou seu nome neste seleto clube no dia 30 de maio.


Helio Castroneves não era o favorito. Em todos os anos de Penske, em especial desde que ele deixou de correr a temporada inteira e conseguiu disputar apenas as 500 Milhas, graças a Roger Penske, ele havia chegado perto em umas vezes, longe em outras. Mas estamos falando de um lugar místico. O templo Indianápolis Motor Speedway tem auras que em lugar nenhum do mundo existe. 


Uma semana antes, no dia 22, falecia André Ribeiro – por coincidência, brasileiro, paulista e com histórico na Penske. Fora ele quem permitiu aos brasileiros comemorarem a primeira vitória pós-Senna (e todos que viveram aquilo sabem o peso que foi). Foi graças àquela vitória que meu tio João continuou assistindo à “Fórmula Mundial” – e eu com ele, pois, quando estávamos nos domingos na casa da esposa dele, éramos os dois a ver as corridas. E muito do que devo desta minha paixão por esportes a motor eu devo a ele – que, há dez anos, está no Céu. 


Ribeiro disputou apenas uma discreta Indy 500 em 95, a sua última, já que, nos anos seguintes, ele e a Tasman iriam para a CART. Mas, como eu disse, o Speedway tem magia. E empurrado pelo motor Honda, marca com que o ex-piloto e empresário sempre teve excelentes relações (tanto que sua rede de concessionárias era a maior da marca no país), Helio Castroneves fez uma excelente preparação para as 500 Milhas desse ano.


Na corrida, embora não estivesse sempre na ponta, figurou entre os primeiros. Seu carro zero-seis, preto e rosa, estava sempre no retrovisor dos primeiros. O favorito e pole-position, Scott Dixon, teve um problema nos pits que minou sua prova. O companheiro dele, o espanhol Álex Palou, tinha um carro super veloz, e poderia ser uma ameaça. Mas a experiência de 46 anos, sendo desses 20 de Indianápolis, falou mais alto. E, no momento certo, o brasileiro deu o bote, para não mais sair da P1.


Nesse momento do bote (e até enquanto escrevo essas palavras), lágrimas caíram do meu rosto. Tanto quanto em 2009, a última vitória dele ali, até então. De toda a circunstância. Hoje, haviam circunstâncias também. A primeira prova com público desde a Covid-19. A primeira prova de Helio em Indianápolis em uma equipe que não fosse a Penske. O ex-patrão de Helio, agora, era o dono do circuito e da categoria. A Meyer Shank, sua equipe, havia fechado contrato apenas para Indianápolis e outras cinco provas. Mesmo tendo certo sucesso no endurance (antes correndo pela Penske e, neste ano, pela Meyer Shank), Castroneves nunca negou que sua paixão eram os monopostos. E, como disse Felipe Giaffone na última conquista brasileira no Templo: “ao ganhar Indianápolis, você está tranquilo por um bom tempo”. 


Por isso, o sorriso de um homem que sempre sorria, ao correr pela reta principal, escalar o alambrado (sua marca registrada, por isso a alcunha de Spider-Man), era o sorriso de milhares de brasileiros que vibraram com sua vitória.


Ri o Helio. E nós também.


------------------------------------


Vale destacar outra novidade: a primeira vez da IndyCar na Cultura, com a narração de um fã de automobilismo como a gente, e os comentários de um veterano do jornalismo que soube abraçar a proposta. Além da nostalgia do tema tradicional da Indy, cujos direitos pertencem a Emerson Fittipaldi, me lembrou também 1993, quando a categoria saía da Bandeirantes e ia para a Manchete, ser narrada por um então desconhecido no País chamado Teo José. 


É muita magia!


Texto escrito pelo nosso colaborador Filipe Dutra

Um comentário: