A vitória de Takuma Sato mostra um dos melhores lados das 500 milhas de Indianápolis: reconhece pessoas além dos pilotos e suas personificações.
AAAAAAAAAHHH! WAAAAAAAAAAHHH! AAAAAAAHHHH, AAAAAAAAAAAAAHHH! Essas foram as primeiras "palavras" de Takuma Sato como atual vencedor das 500 milhas de Indianápolis. O japonês voador conseguiu alcançar sua maior vitória utilizando-se do ótimo ajuste que apenas uma equipe de seis carros como a Andretti Autosport pode fornecer e também de uma boa dose de sorte para a quebra ou queda dos principais pilotos favoritos a prova (as batidas de Dixon e Carpenter, as quebras de Hunter-Reay e Alonso e o erro nos pits de Rossi).
Mas, o que fez grande diferença, pelo menos ao meu ver, foi um fator intrínseco a Sato. Não sei como definir em uma palavra só, então o farei por meio de exemplificação:
O automobilismo é um esporte que exige, invariavelmente, pessoas com alguns parafusos a menos e um bocado de confiança a mais. Essas pessoas se chamam pilotos, e são as únicas capazes de, guiando uma máquina a velocidades exorbitantes, passar a centímetros de um monte de metal, plástico ou concreto com o único de objetivo de passar por uma determinada linha antes de outras pessoas com parafusos a menos que guiam máquinas a velocidades exorbitantes.
Esse processo, chamado de ultrapassagem (não é uma simples passagem por causa da velocidade completamente inumana, por isso se acrescenta o 'ultra-') é tão delicado que deve-se esperar pela oportunidade onde o movimento pode ser feito com segurança, a fim de se evitar catástrofes, e o único parâmetro utilizado para selecionar a oportunidade para se fazer esse movimento com cautela depende do zelo dos pilotos. Muitos pilotos são zelosos e fazem movimtos com o máximo de segurança, para não causar catástrofes, e alguns pilotos claramente perderam mais parafusos que a maioria. Em inglês isso é chamado de spatial awareness, que em tradução literal se torna 'percepção espacial', por ser uma tradução horrível e nada digna do que esses pilotos fazem, eu nunca a uso e prefiro usar esses dois parágrafos gigantescos.
Sato nunca teve muitos parafusos e pagou por isso durante toda sua carreira com uma série de estigmas ligado a sua falta de parafusos na cabeça. Desde suas primeiras incursões na Fórmula Um, onde o cérebro dos pilotos sofre imediata lobotomia para se eliminar qualquer traço de humanidade e, por consequência, os erros humanos, o 'japonês voador' que surgiu na Fórmula 3 Inglesa logo foi substituído por 'kamikaze' e outros apelidos do gênero.
Sato sendo parabenizado pelos mecânicos da Foyt. |
O fato é que Takuma e seu jeito desastrado não tinha lugar na perfeita Fórmula Um. Lá o japonês não conseguia mostrar seu melhor lado: o de pessoa mais legal de todos os tempos e mais simpática da galáxia. É muito fácil esquecermos disso por, apesar de tudo, estarmos muito longe dos pilotos e acabamos esquecendo que eles também são humanos quando não estão fazendo seu papel de doidos varridos guiando carros a 300 quilômetros por hora; e também quando o mundo do automobilismo quase ignora esse fator tão importante na vida de um piloto, seja para conseguir contatos com equipes e patrocinadores, seja para não cortar os pulsos ou jogar seu carro contra o muro mais próximo por sucumbir a pressão da profissão.
Sato se vestindo de bombeiro junto com Ed Carpenter. |
Outra coisa que, aos poucos, os americanos (e nós também) descobriram é que Takuma Sato é habilidoso também. A sua carreira com mais de cem corridas na Indy, metade dela é recheada de abandonos; na outra metade, ele completou a maioria delas entre os dez primeiros, com belos dez top 5 e uma vitória em Long Beach, guiando a AJ Foyt, a única vitória da equipe desde Airton Daré em 2002.
Sato vinha enfrentando uma fase complicada na carreira nesse ano. Aos QUARENTA anos o japonês recomeçava na carreira fazendo sua primeira temporada na Andretti Autosport devido a um impróglio envolvendo a troca de fabricante de motores de sua antiga equipe, a AJ Foyt Enterprises Racing. Para o japonês, a 500 milhas desse ano foi bem parecida com a de 2012, quando ele, junto com seus companheiros de equipe estiveram sempre no pelotão dos líderes. Mas, na hora da verdade, o destino do japonês foi diferente de 2012. O japonês voador conseguiu executar seus típicos movimentos de pilotos com parafusos a menos para cima de Chilton e Ed Jones, mas para cima de Hélio Castroneves não precisou de nada disso, pois Sato tinha mais carro e mais pneu, tendo apenas de se manter a frente do brasileiro para se sagrar vitorioso na Indy 500. Ajustes + Sorte + Movimentos típicos do Sato. Em nenhum momento Sato deixou de ser Sato, desde o começo até agora.
Apesar de não ser o piloto perfeito, Takuma Sato mostra que não é necessário ser perfeito para ser um piloto importante ou relevante na história e que, pelo menos em Indianápolis, existe coisas muito mais importantes que isso para se sagrar vitorioso. Que venham mais Takumas ganhando as 500 milhas de Indianápolis!!
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