Dando prosseguimento ao provável maior artigo sobre a Indy Lights escrito em língua portuguesa, após apresentar todo esse (longuíssimo) pano de fundo para vocês, vamos ao que interessa: o campeonato em si. Antes, se você não viu esse pano de fundo, ele está disponível aqui.

Imagine um universo paralelo onde a tática do Hélio Castroneves de fazer resultados bons quando fosse possível desse certo.  Onde quem se ferrasse em Houston não fosse o então líder mas sim os segundo e terceiro colocados e a sorte não abandonasse o líder.  Então, o ano da Lights em 2013 foi algo como isso, onde Sage Karam seria o Hélio campeão e Carlos Muñoz e Jack Hawksowrth seriam versões diferentes do primeiro perdedor Dixon.

Para facilitar sua compreensão e minha escrita, ao invés de descrever cada corrida, irei comentar sobre os momentos onde realmente aconteceu algo relevante ou interessante para o campeonato em si.  A Lights é permeada de corridas de certo modo cansativas e extremamente monótonas, muito devido à combinação de poucos pilotos mais pistas não muito boas.

Tendo dito isso, vamos a St. Pete, finalmente.

Na primeira corrida, Muñoz e Hawksworth largam na primeira fila, mas Jack Hawk garoteia logo na primeira curva e é ultrapassado por Gabby Chaves, Peter Dempsey e Carlos Muñoz, respectivamente.  Dempsey, com carro inferior, logo é ultrapassado por Muñoz e Hawksworth.  Muñoz vinha pressionando a liderança de Chaves até que acontece o primeiro momento chave para o campeonato:

O contato de Chaves (7) e Muñoz (26),  leia que nem quadrinho.
No, segundo as palavras de Pippa Mann, contato entre eles, Muñoz continua na prova mas é punido com uma passagem pelos pits, enquanto Chaves abandona ali mesmo.  Hawksworth assume a liderança pra não mais largar e vence o primeiro GP do ano pela terceira vez seguida (ele havia ganho ele em 2011 na USF2000 e em 2012 na Star Mazda), Dempsey consegue abocanhar um ótimo segundo lugar e Sage Karam passa em terceiro após largar do sexto posto.  Muñoz, que vinha tentando uma corrida de recuperação, abandona quando brigava pela quarta posição.

Em Barber, nada aconteceu.  Apenas a primeira volta foi legal e mesmo assim não houve mudança alguma.  Muñoz largou e chegou em primeiro, Hawksworth largou e chegou em segundo.  Chaves largou e chegou em terceiro.  Karam largou e chegou em quarto.  Certamente eu deveria ter feito algo melhor do que procurar stream pra ver essa corrida.

Mas em Long Beach Jack Hawksworth mostraria a que veio na categoria.  Ele largaria em segundo, após perder de novo pra Carlos Muñoz no treino classificatório, estava disposto a não perder novamente pra ele na largada.  Mas na corrida não houve jeito e Muñoz passou a frente na largada, e Jack, disposto a não perder o terceiro posto, fez isso pra se defender:

Jack Hawksworth (77) batendo em Zach Veach (em cima) e em Peter Dempsey (embaixo), depois ficando todo nervosinho...
Com isso, tanto ele como Veach e Dempsey estão fora da corrida.  Os pilotos relargam e cinco voltas depois Juan Pablo Garcia roda na curva um, e seu companheiro da vez Mikael Greiner, sem ver nada, acaba batendo nele.

Sem muitos carros na pista e com um carro dominante da Andretti, Muñoz acelera pra vencer novamente, com Gabby Chaves em segundo e Karam em terceiro, após brigar muito por essa posição com Jorge Gncalvez.  Mattew Di Leo, o piloto/diretor/dono da MDL Racing (adivinhe o porque da sigla) desfila seu carro até chegar em quinto, uma volta atrás.

Lembra que disse que não iria descrever cada prova?  Então... eu menti.  Afinal, isso é um dossiê, então quanto mais detalhe melhor não é?

E chegamos a Freedom 100, a corrida mais famosa de 2013 e quiçá de toda a história da Lights.  Após KyleO’Gara e Jack Hawksworth baterem sozinhos e Muñoz ultrapassar o até então líder de ponta a ponta Sage Karam, um comboio de cinco carros formou-se na volta quinze e permaneceu muito próximo até a volta 35.  Muñoz, Karam, Chaves, Dempsey e Veach, respectivamente, mantinham diferenças de menos de um segundo entre si, até que os pneus de Veach acabaram e foi relegado à quinta posição.

A diferença pode não ser grande, mas Dempsey (5) já sabia que tinha ganho, por algum motivo...
O comboio de quatro carros permaneceu em sua formação até a metade da última volta, quando Karam coloca por dentro para passar Muñoz na curva três.  O que nenhum deles esperava seria Gabby Chaves colocar seu carro na linha de cima na entrada da curva três, e como resultado os três carros (Karam por baixo, Muñoz no meio e Chaves por cima) proporcionam a cena magistral que é os três carros passarem as duas curvas e a reta final da prova lado a lado.  Dempsey, utilizando sua experiência de duas corridas em indianápolis, aproveitou todo o vácuo formado pela parede de carros a sua frente e colocou seu carro numa linha mais acima do que a de Chaves, e com maior velocidade passou a Brickyard em primeiro, pentelhésimos de segundo a frente de Chaves.  Karam passa em terceiro e Muñoz em quarto, a menos de dois centésimos de segundo atrás do vencedor Dempsey.  Essa seria a única vitória de um carro que não fosse Andretti ou SSM o ano, e com certeza a mais impressionante do ano.

A mãe da Danica Patrick dizendo pros pilotos ligarem os motores em Milwaukee.
E chegamos a Milwaukee, que tradicionalmente é um oval chato.  Nesse ano não foi exceção, mas a performance de dois pilotos chamaram a atenção:  Zach Veach e Jack Hawksworth.  Nessa prova, Zach Veach surpreendeu e conseguiu segunda posição, e logo no começo da prova conseguiu a liderança imprimindo um ritmo muito rápido.  Na volta trinta Zack já estava cinco segundos a frente de Karam e Muñoz, segundo e terceiro colocados respectivamente, e se preparava para colocar a primeira volta em cima de... Jack Hawksworth.  Jack vinha enfrentando grandes problemas de se acostumar com carro e pista, a ponto de estar em último lugar, virando tempos cinco milhas menor (sim, nos Estados Unidos milhas podem ser usadas como escala de tempo), a ponto de ele, um dos favoritos ao título, levar voltas dos outros competidores.

Num foi dessa vez, Zach.
Apesar de Hawksworth e outros carros mais lentos estarem propícios a levarem voltas, Veach não era perito em dá-las.  O piloto da Andretti vinha enfrentando grandes problemas para passa-los e via sua diferença para os outros competidores ser pulverizada.  Na volta 53, enquanto Veach se enrolava para dar a segunda volta em Hawksworth, Karam e Muñoz encostaram no líder e o ultrapassaram.  Após esse momento, praticamente não houveram  trocas de posições, excetuando a recuperação de Chaves (vindo de sétimo para quarto) e a rodada de Dempsey na volta 95 (caindo de quarto pra sexto), finalizando a prova com Karam vencendo, Muñoz em segundo, Veach em terceiro e Hswksworth em último, duas voltas atrás do líder.

Em Iowa a Sam Schmidt exerceu grande domínio sobre as outras equipes, a ponto da vitória ser disputada apenas por seus pilotos.  Chaves, Karam e Hawksworth (!!!) que se mostrava bem mais habituado aos ovais, brigaram até a última volta pela ponta de maneira ferrenha, mas quem cruzou a linha de largada/chegada em primeiro foi Sage Karam, com Chaves em segundo e Hawksworth em terceiro.  Muñoz enfrentou problemas após um leve toque no muro e completou em último três voltas atrás.
O Trio da Sam Schmidt voando em Iowa
Nesse ponto, Muñoz deixou a liderança do campeonato pela primeira vez, a constância de Sage Karam finalmente renderia frutos e ele liderava com nove pontos de vantagem pra Muñoz e trinta pontos de vantagem pra Chaves.  Jack Hawksworth não vinha em grande forma e figurava em quinto no campeonato, atrás até mesmo de Peter Dempsey. 

 No penúltimo oval do ano, mais um piloto se mostrou dominante a corrida toda, e o piloto da vez foi Carlos Muñoz.  Ele fez hat trick nessa prova, largando na pole, fazendo a volta mais rápida e terminando em primeiro lugar com uma semana de diferença pro segundo colocado.  Mas o que mais chamou a atenção nessa prova foi a briga pelo segundo lugar, proporcionada por Karam e Chaves.  Ambos trocaram de posição desde a volta cinco, duelaram ferrenhamente pelo segundo posto até o último momento, onde Karam passa em segundo e Chaves passa poucos milésimos atrás em terceiro.
  
O duelo de Karam (vermelho) e Chaves (branco).
Em Toronto, Jack Hawk foi o pole e largou muito bem dessa vez, deixando Chaves pra trás em segundo.  Ainda na primeira volta, Zach Veach e Matthew Di Leo brigavam por uma posição intermediária, e Sage Karam ia tentar ultrapassar os dois ao mesmo tempo; passar até que passou, mas esqueceu de apertar o pedal do freio e acabou batendo e levando Veach ao muro.  Na primeira volta, Jack ainda era o líder, com Gabby Chaves em segundo, Muñoz em terceiro e Peter Dempsey em quarto.   
 
Parecia que, milagrosamente, a manobra ia dar certo, mas não deu.
Mas essa corrida em Toronto é bastante longa, os pilotos tem que dar 50 voltas no traçado, e os pneus acabam indo embora se você não tomar conta deles.  Um exemplo foi Mattew di Leo, que apresentou problemas elétricos.  No fim da corrida, quase ninguém tinha bons pneus, e então a experiência de Dempsey fez a diferença, onde ele economizou seus pneus e ultrapassou tanto Muñoz quanto Chaves e assumiu a segunda posição.  Mesmo assim, nem chegou perto de ameaçar a vitória de Jack, que voltava a briga do campeonato.  Dempsey completou num honrado segundo lugar, Chaves em terceiro, Muñoz em quarto, e Juan Pablo García em quinto, e só esses estavam na mesma volta do líder.  Karam, Veach e Goncalvez terminaram voltas atrás.

Muñoz avaliando como combater o vice-líder, e Karam encarando o desafio de frente.
Nesse ponto do campeonato, Carlos Muñoz retomava a liderança e abria oito pontos para Karam e mais de trinta pontos para Chaves, Hawksworth e Dempsey.  Mas daí pra frente, nada deu muito certo pra Muñoz.  Você vai ver o que não deu certo na postagem final desse dossiê.

A parte final pode ser vista aqui

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