por Rafael Marinho

O “Templo da Velocidade”, que batizaram de “Indianapolis Motor Speedway”, jamais mudou seu traçado retangular e, desde a inauguração, tem a seqüencia de 4 curvas intacta. Algumas outras lendárias pistas ao redor do mundo já modificaram diversas vezes seus traçados (por inúmeros motivos, ressalto) e foram perdendo aos poucos trechos importantes de suas características mais interessantes.
Traçado imutável.
Silverstone (inaugurada em 1948), Spa-Francorchamps (inaugurada em 1925), Mônaco (inaugurada em 1929), Monza (inaugurada em 1922) e Le Sarthe (inaugurada em 1923) são exemplos clássicos de pistas que tiveram seus projetos originais modificados significativamente com o passar dos anos. Indianapolis, por outro lado, só modificou uma coisa em mais de um século de existência: o tipo de piso da pista – de terra para os tijolos e dos tijolos para o asfalto.  

Ali, com esse traçado simples, os integrantes da emergente indústria automotiva da época (europeus e americanos) duelavam para atingir as velocidades máximas dos seus carros; também foi por isso que assistir a essa busca por velocidades cada vez mais extremas evoluiu junto com a fama do evento.

Harroun andando tão rápido que a foto sai distorcida.
As 500 Milhas de 1911, a primeira, foi vencida por Ray Harroun e teve duração de 6 horas, 42 minutos e 8 segundos, com o “Marmon Wasp” rasgando a Olaria numa velocidade média de 119.36 Km/h (ou 74.6 mph). Ray largou da vigésima oitava posição e até hoje, junto com Louis Meyer (o criador da tradição de beber leite no Victory Lane), é o piloto que venceu as 500 Milhas largando da posição mais distante do pole-position.
  
No ano seguinte, 1912, pela primeira vez as 500 Milhas tiveram treinos classificatórios. Na edição inaugural o que valeu para definir as posições de cada piloto foi o número da inscrição. Dessa vez, os pilotos precisariam conquistar o primeiro posto. A pole ficaria com o norueguês Gil Andersen que cravou a impressionante velocidade de 129.488 Km/h (ou 80.93 mph), só oito quilômetros a menos que a velocidade necessária para Marty McFly acionar o Delorean em “De Volta Para o Futuro”!

A proximidade da barreira das 100 Milhas excitava pilotos, mecânicos e a plateia que a cada novo mês de maio lotava as dependências da pista para ver o recorde do ano anterior ser esmigalhado. Em 1915, o americano Howdy Wilcox conseguiu incríveis 159.00 Km/h (ou 98.80 mph) na qualificação. Era a amostra de que logo romperiam a temida barreira, e isso talvez acontecesse antes mesmo da chegada da década de 20. Entretanto, a Primeira Grande Guerra Mundial chegou antes e tudo parou em Indianapolis por dois anos!

Passado o conflito, numa tarde de quinta-feira do dia 27 de maio de 1919, o francês René Thomas (Campeão das 500 Milhas de 1914) ultrapassaria pela primeira vez na história a tão almejada barreira das 100 milhas dentro do Templo da Velocidade. Mais precisamente absurdos 168.63 Km/h  (ou 104.78 mph).
O recorde de René Thomas duraria três anos, até que Tommy Milton, em 1923, alcançasse 174.08km/h (ou 108.17mph). O restante da década de 20 ainda guardaria algumas boas surpresas para os fãs de velocidade extrema: teria Leon Duray em 1925 chegando a 182.171 Km/h (ou 113.196 mph) e a fantástica marca de Frank Lockhart em 1927, quando é quebrada então a barreira das 120 Milhas. Lockhart fez 193.282 Km/h (ou 120.100 mph) na média de velocidade calculada em quatro voltas. Porém, o piloto mais rápido da década de 20 seria mesmo Leon Duray que, no ano seguinte ao recorde de Frank, chegaria a 196.969 Km/h (ou 122.391 mph).

Os treinos da Indy não eram mais tão atrativos, não tinha quebra de velocidade.
Na entrada da década de 30, sob os efeitos devastadores da Crise de 1929, as velocidades em Indianapolis também despencaram drasticamente, os carros e os bolsos de seus proprietários/construtores não escapariam ilesos da quebra da Bolsa e o cenário de decadência econômica nos Estados Unidos afetaria, pela segunda vez, o desenvolvimento de todo “Mundo Indyânico”, inclusive o Campeonato da AAA (a primeira vez foi durante a Primeira Guerra Mundial). Para se ter noção da catástrofe, a velocidade da pole de 1931, conquistada por Russ Snowberger, beirou 10 milhas a menos que a pole recorde de Leon Duray em 1928: 112.796 mph para Snowberger contra 122.391 mph para Duray. Eram anos difíceis!

A retomada no aumento das velocidades no Templo começaria apenas em 1937, com Bill Cummings que ganhou a pole e bateu o recorde de Duray com a marca de 198.501 Km/h (ou 123.343 mph). No ano seguinte, o grande Floyd Roberts, aumentaria em duas milhas o recorde de Bill: 125.681 mph (ou 202.264 Km/h). Detalhe interessante: tanto Bill Cummings quanto Floyd tiveram que fazer dez voltas (25 milhas ou 40 quilômetros) para tentar a pole na qualificação e não somente quatro voltas (10 milhas ou 16 quilômetros).

Snyder: vice da Indy 500 mas quebrando recorde.
A barreira das 130 Milhas seria quebrada então em 1939 pelo americano Jimmy Snyder que, assim, se tornaria o pole da vigésima sétima edição das 500 Milhas com a velocidade média de 130.138 mph (ou 209.437 Km/h). Nesse ano, foi eliminada em definitivo a regra que exigia que o piloto percorresse 25 milhas (10 voltas) para fazer a média final para tentar a pole e, desde então, os administradores de Indianapolis adotaram a distância de 10 milhas (ou 4 voltas) para definir a média de velocidade de cada tentativa.

A década de 40 iniciaria e as 140 milhas por hora (ou 224 Km/h) eram a nova meta para os pilotos mais rápidos dos carros de roda-aberta. Todavia, aconteceria (de novo) uma Guerra Mundial no meio da cronologia centenária das 500 Milhas e, portanto, tal como aconteceu durante a Primeira Guerra Mundial, as competições de Indy seriam suspensas, de 1942 até 1945.

Quando as corridas retornaram, a lenda Rex Mays em 1948, enfim, supera o tempo de Jimmy Snyder, mas com velocidade pouco superior 130.577 mph (ou 210.143 Km/h) contra 130.138 de Snyder. No ano seguinte, o recorde de Rex é batido por Duke Nalon e a década fecha as cortinas sem muitas elevações na velocidade média do pole: 132.939 mph (ou 213.945 Km/h).
Duke Nalon foi o último a bater recorde de velocidade antes dos anos 50.
Os anos 50 começaram a todo vapor, com as velocidades aumentando progressiva e alucinantemente: Walt Faulkner faz 134.343 mph em 1950, Duke Nalon crava 136.498 mph em 1951, Fred Agabashian atinge 138.010 mph em 1952 e o mito Bill Vukovich consegue 138.392 mph em 1953! Contudo, caberia a Jack McGrath detonar a barreira das 140 milhas e cravar a pole de 1954 com a velocidade de 141.033 mph (ou 226.791 Km/h). A maior velocidade dessa década ficaria com Dick Rathmann 145.974 mph (ou 234.922 Km/h) em 1958. 

A próxima barreira de velocidade, a de 50 milhas por hora, era tão intransponível que ficará para o próximo texto, até lá!

Nenhum comentário:

Postar um comentário