Eu tentei escrever e reescrever algumas vezes, e o que saiu no final foi esse texto. Escrevê-lo foi mais difícil que escrever minha monografia. 
Acho que é minha primeira postagem com apenas uma imagem.
Sabe, é complicado ser um fã da Indycar. Quem acompanha a coisa toda de perto sabe que há uma gama de emoções em volta da categoria, indo desde alegrias da vitória, a adrenalina das ultrapassagens e até a angústia dos acidentes e das derrotas. 

Tá, todas as categorias do automobilismo (e do esporte em geral) tem esse ingredientes, mas na Indycar parece que tudo aumenta exponencialmente. A gente tem toda aquela ansiedade para ver como ficarão os esperados aerokits, que finalmente vieram à toda depois de dois anos de adiamentos. Vem a indignação de ver que aquilo era bem menos estético do que se esperava, depois vem a alegria ao ver que eles realmente funcionaram e quebraram vários recordes, vem a frustração ao ver que as milhares de aletas extras geram bandeiras amarelas e interrompem a prova. Isso sem contar nos kits para ovais, com os ""voos da morte"", as velocidades mais baixas, depois o tédio do Texas, depois o Pack Racing em Fontana. 

Todos esses sentimentos aflorados com uma simples implementação de algo já programado. Esse exemplo dos aerokits pode ser extrapolado para praticamente todas as decisões e ações da categoria: entrada e saída de provas, mudanças de pilotos e equipes, o ritmo das provas. 

Mas nada disso mexe tanto com a gente quanto uma tragédia. Isso por causa de uma outra qualidade da categoria: cada piloto é excepcionalmente único. Vejamos Justin Wilson, por exemplo. O grandalhão inglês dirigiu praticamente todas as coisas horríveis que as piores equipes do grid tinham a ousadia de chamar de carros da Indy, incluindo aí quatro anos de Dale Coyne. Lá, ele conseguiu a primeira vitória da equipe na Indy, fazendo o que nenhum dos mais de 40 pilotos tentaram por cerca de vinte anos. Lutou muito pra permanecer na categoria mesmo não tendo dinheiro, e conseguiu por quase dez anos seguidos. Fora das pistas, era a simpatia em pessoa: tirava fotos com praticamente todos. Tinha dois filhos e os levava para a pista, proporcionando as cenas mais fofas da história do automobilismo. Me fala como é possível não torcer e gostar de uma pessoa como essa. 

Corrigindo: agora tem duas imagens. Como fui esquecer dessa?
Mas ele não é exceção: na verdade, ele é a regra da categoria. Charlie Kimball e seu humor particularmente estranho, Pippa Mann e sua meninice, James Jakes e sua capacidade de ficar invisível socialmente, todos eles são bizarramente diferentes um do outro, e excepcionais na categoria. Praticamente todos os pilotos têm esse ou aquele atrativo que faz você torcer por ele, e faz a partida de qualquer um deles nos dar depressão por um bom tempo. Parece faltar algo para tudo estar 100%, há uma lacuna que incomoda e entristece, similar a que nos deixou Wheldon, Franchitti e agora Wilson. Isso parece não ser muito compreendido por aí, especialmente no Brasil, onde temos que lidar com toda uma crítica já pré-programada sobre a categoria e os pilotos e essas lacunas parecem ser esquecidas em detrimento de outras questões. A grande maioria da comunidade automobilística, ao contrário dos fãs da Indycar, costuma encarar essas mortes não como uma perda, mas como uma oportunidade de pedir mudanças, apontar erros e criticar outrem. Claro, a morte de Wilson pode ser um marco, mas eu, sinceramente, nesse momento estou pouco me lixando pois ainda sinto a falta do inglês grandalhão em nossa dimensão. 

Enfim, a morte de um piloto, ainda mais em um acidente durante a corrida, traumatiza bastante a todos nós. Na montanha russa das emoções da Indycar, é uma descida rumo ao fundo do poço. 

Entretanto, isso tudo faz parte da categoria. Essas tragédias fazem parte e sempre farão, pois são um negativo que TODOS concordam em existir em detrimento de vários outros prós. Os pilotos adoram correr, especialmente nas atuais condições da Indycar; as equipes adoram colocar os pilotos para correr e nós, fãs da categoria, adoramos vê-los correr, mesmo sem clima qualquer para uma corrida da Indycar, como nessa semana. 

Verdade, nessa semana tem a final do campeonato, mesmo com ninguém mais ligando para ele. Todo mundo vai de coração partido pra Sonoma, e já consigo prever algumas coisas da prova e da decisão do campeonato:

Todos (pilotos, dirigentes e fãs) estarão muito tristes pela morte de JW. Serão feitas muitas homenagens ao piloto - justíssimas, diga-se de passagem - e todos declararão que estarão muitos tristes por correr; mas tudo isso ficará para trás quando a bandeira verde for acionada e houver a primeira confusão na curva dois, típicas no circuito californiano. A cada batida, a cada acidente e a cada toque lembraremos do acidente que vitimou o inglês mais simpático do padoque, mas esqueceremos quando virmos as disputas e ultrapassagens da prova, as mudanças de estratégia e os vários pilotos correndo quase sem combustível, como sempre acontece em Sonoma. No fim da prova, teremos o campeão (Montoya, Rahal, Dixon, Power, Hélio ou Newgarden, não importa) mas não haverá festa, não haverá zerinhos da vitória nem confete no pódio; na coletiva de imprensa, Wilson sempre será lembrado, e o ano acabará com o amargor da falta que o inglês nos faz. 

 Para alguém que apenas acompanha ou não se envolve com a categoria nada disso faz sentido, e o melhor seria cancelar a etapa. Mas nós, os fãs da Indycar, entendemos o porquê disso acontecer. 

Porque isso é a Indy, essa montanha russa de emoções. 

Porque isso é a vida.

2 comentários:

  1. Concordo com 100% desse texto. É triste e lamento profundamente o que aconteceu, penso na família do Justin e nos amigos dele. Mas isso faz parte do automobilismo, infelizmente, todo mundo que entra em um carro de corridas sabe que está colocando a sua vida em risco. E convenhamos ninguém obrigou ele a entrar no carro e correr, muitos pilotos já disseram que se pudessem escolheriam morrer na pista, fazendo o que gostavam.

    Então, é com muita tristeza que vai acontecer a final do campeonato, mas afinal o automobilismo vai continuar acontecendo e mais do que isso, nós fãs da Indy vamos querer continuar assistindo as corridas e os pilotos vão querer continuar correndo...

    ResponderExcluir
  2. Antes de mais nada gostaria de poder dar-lhe um aperto de mão, e um forte abraço fraternal por conseguir sintetizar o verdadeiro sentimento que nós, amantes da Formula Indy, sentimos a cada tragédia.. e foram tantas que nem nos damos conta que o grid está cada vez mais triste, a cada ano.. Não vemos mais Greg Moore alinhar, Paul Dana, Dan Weldon entre outros.. e um pedaço de nossos corações foi ficando também, ao longo desse tempo..em cada muro, alambrado, em cada curva.
    Em Pocono, aquela peça atingiu também a todos nós. Novamente nossos corações foram machucados e Justin Wilson também não vai mais alinhar seu bólido. vai ser difícil o próximo domingo, mas estarei ali..na frente da TV fazendo o que tenho que fazer, assistir mais uma prova...assim como cada um desses valentes guerreiros farão, pilotar, assim como o Justin também faria.

    ResponderExcluir