Chato dizer: mas ainda faltam um pouco mais de quatro meses para a temporada de 2015 começar e muito disso se justifica pelo campeonato mais curto que a Indycar implementa esse ano. Vejamos agora sete campeonatos que foram mais curtos que esse, para ver que nossa situação seria bem pior antigamente (ou não).
Offseason interminável.
Esse campeonato de 2014 durou exatos cinco meses, de 30 de março a 30 de agosto. Tudo para evitar choques com a NFL que, por mais incrível que pareça, é concorrente da Indycar em público (ou melhor, a NFL pega o público da Indycar e não o contrário). No fim, tivemos 18 provas e a audiência televisiva aumentou consideravelmente no desconhecido canal que as corridas passam, a NBCSN, e até houve um pequeno aumento na ABC. Entretanto, adicionar mais provas e fechar o calendário em um espaço hábil tão curto vem se mostrando uma tarefa hercúlea, e algumas provas (incluindo aí a última do campeonato) sofreram com públicos minguados nos autódromos.

Esse campeonato esteve entre os vinte mais curtos do automobilismo americano de monopostos. Nessa lista terão mais oito (ou mais) temporadas que conseguiram, por vários motivos diferentes, ser mais compactas que a desse ano.  lembrando que: para nós do Indy Center Brasil, onde tinha Indycars correndo, chamamos de campeonatos da Indycar: assim, tanto CART quanto IRL, quanto USAC, quanto AAA e todas as outras chancelas que se auto denominavam Indycar, consideramos Indycar, e seus campeonatos são válidos para nós.

Pois bem, vamos começar logo a lista, pois a postagem é gigante (repara no tamanho da barra de rolagem):

1996, IRL.  120 dias.
Pena que não deu certo, o circuito era tão bonitinho...
Acho que esse era o campeonato mais conehcido e esperado da lista. Em 1995 foi confirmado que alguns dirigentes, encabeçados pelo então dono do IMS Tony George, fundariam uma nova categoria de monopostos para corridas apenas em ovais, com a temporada inicial para 1996 e incluindo no campeonato as 500 milhas de Indianápolis.

Os carros da IRL eram muito fashion.
A Indy Race League tinha, até o momento, anunciado cinco corridas em ovais para 1996:  Os novos circuitos de Walt Disney e Las Vegas, e os já tradicionais ovais de New Hampshire, Phoenix e o Indianápolis Motor Speedway. Entre as equipes, participariam aquelas que tinham mais afinidade com ovais e a USAC, como AJ Foyt, Hemelgarn, Team Menards, Project Indy e outras equipes novas oriundas dos midgets.

Entretanto, as cinco provas marcadas ficaram em datas muito espaçadas entre si. Então a IRL tomou a decisão de colocar as duas provas do segundo semestre (em New Hampshire e em Las Vegas) fazendo parte do campeonato do ano que vem, fazendo com que o campeonato de 1996 tivesse apenas três provas e a duração de quatro meses.

Nesse início as equipes tinham a disposição carros e motores de anos passados (95, 94, 93 e até 92), a serem usados nesse ano; e no ano que vem todos escolheriam entre chassis Dallara e G-Force e entre motores Oldsmobile ou Infiniti.

Os pilotos já nem tanto.
A primeira corrida do ano, em Walt Disney teve 25 inscritos, mas apenas 20 largaram (três por não conseguirem desenvolver grande velocidade e dois, Butch Bricell e Eliseo Salazar Sonserina, por se machucarem fortemente nos primeiros testes) e apenas dois carros brigaram realmente pela vitória. No final, Buzz Calkins venceu o duelo com Tony Stewart na última parada e venceu a prova.

Na segunda prova em Phoenix, 28 inscritos mas apenas 22 conseguem largar. Nessa corrida Arie Luyendyk sobra, largando na ponta e só não  liderando a prova quando fazia suas paradas e, no fim, ficou oito segundos a frente do segundo colocado, Scott Sharp.

A última corrida da temporada seria a 80ª 500 milhas de Indianápolis, e nela também surgiram algumas polêmicas. A IRL deu preferência para seus carros alinharem no grid pela regra "25/8", onde os 25 carros mais bem classificados no campeonato tinham vaga assegurada no grid das 500 milhas, e os outros carros teriam que brigar pelas vagas restantes. Essa regra foi colocada em clara retaliação a presença dos carros da CART, que organizou uma prova de 500 milhas em Michigan na mesma data e uma hora antes, e ainda nomeou a prova de US 500, ou "As 500 milhas americanas".

Polêmicas a parte, aconteceram os treinos livres e Scott Brayton conseguiu a pole no treino classificatório mas, infelizmente, sofreu um acidente fatal durante os treinos finais (R.I.P.). A corrida tem largada normal, com Tony Stewart e Roberto Guerrero liderando até a metade da prova. No decorrer da prova, Stewart sofre problemas de motor e Geurrero começa a ter alguns problemas de desempenho em seu Reynard, surgindo três novos personagens na prova: Alessando Zampedri, Davy Jones e Buddy Lazier.

No fim de 1996 correram em Las Vegas sem problemas, e com muito público.
Zampedri liderava até a volta 190, quando também passa a ter problemas de desempenho com seu Lola/94 e Davy Jones assume a liderança, mas por pouco tempo, pois o americano tinha que economizar combustível e não conseguiu segurar a liderança perante a Buddy Lazier, que lidera até o fim da prova.

Entretanto, o campeonato ficou para o vencedor da primeira prova Buzz Calkins e Scott Sharp, que empataram em 82 pontos e se sagraram co-campeões do primeiro campeonato da IRL.

Outro ponto interessante dessa fase é que, logo depois do campeonato mais rápido dos últimos 15 anos, a IRL realizou o campeonato com maior duração da história, começando em agosto de 1996 e terminando em outubro de 1997.

1905.  113 dias.

Caso a Indy fosse determinadas em três dimensões espaciais e uma temporal, esse seria o (0,0,0,0).
Pois é, o primeiro de todos. O campeonato de Indycar antes de existir Indy, e quando mal haviam cars por aí.  

A Associação Americana de Automobilismo, com apenas dois anos de criação, tinha intenção de popularizar os automóveis nos Estados Unidos e aumentar sua influência nas suas sedes provinciais (ainda eram províncias americanas e não estados). Para isso, organizou uma janela de tempo (parecido com uma temporada de caça), onde eram organizadas provas com a ""chancela"" da associação. Um estado que gostou muito da ideia foi Nova Iorque, com corridas em pistas de terra da capital e em algumas do interior.

Oldfield, o Campeão (sentado no ""carro"").
No início do século as corridas tinham formato diferente, mais parecidos com as corridas de cavalos: os carros (de dois a dez, dependendo da largura da pista) alinhavam lado a lado, e um tiro anunciava o início da prova. Quem completasse a distância regulamentar (normalmente cinco ou dez milhas) primeiro ganhava a prova.  Caso houvesse mais carros doque a pista podia comportar na peleja, eram feitas corridas eliminatórias antes da corrida principal.

No fim, o campeão da temporada foi Barney Oldfield e seu carro Peerless, que ganhou cinco das oito corridas que participou (o segundo que mais participou fez apenas quatro provas). Oldfield ocasionou grandes disputas com Louis Chevrolet e seu Fiat (18)90 (essa não será a única informação que causará um bug em seu cérebro).

Louis Chevrolet
Os dois disputaram duas corridas (praticamente dois duelos, pois apenas os dois correram essa provas): em Hartford, onde Oldfield ganhou quando Chevrolet teve o acelerador de seu Fiat quebrado; e em Brunots, quando Chevrolet completou as dez voltas da prova mais rápido que Oldfield. Essa também foi a primeira vez que alguém completou dez milhas de uma corrida em menos de dez minutos.

O resultado do acidente fatal de Jay.
Um ponto curioso foi a segunda corrida em Morris Park, onde oito carros se inscreveram e a corrida seria decidida pelo carro que fizesse o menor tempo de volta. Webb Jay fez uma milha em impressionantes 48 segundos e 3/4, sendo o mais rápido do dia e se sagrando campeão da prova em Morris Park 2. Infelizmente, o piloto viria a falecer duas etapas depois, em Bufallo, quando seu carro perdeu o controle e foi parar em um lago. Os automóveis foram proibidos em Buffalo por um mês devido a esse acidente.

O outro ponto é que Oldfield quase perdeu esse título quase 50 anos depois. Em 1951, a AAA pretendeu revisar os resultados arquivados dos campeonatos passados, a fim de lhes atribuir maior importância na revisão histórica. Entretanto, essa revisão não foi bem aceita, tanto por problemas catalográficos (que eram feitos sem métodos e critérios acreditados) quanto por problemas de cunho filosófico.  No fim, o título de 1905 permaneceu com Oldifeld e sem revisão histórica.

1929.  95 dias. 
Altoona Fairgrounds, a "Indy do oeste".
Após aquele início os campeonatos da AAA se desenvolveram bastante, a ponto de ficar em um formato próximo ao que vemos hoje. O campeonato também cresceu bastante, a ponto de ter mais de vinte carros no grid das provas e alguns pilotos conseguirem fazer todas as provas do ano (atravessar os Estados Unidos nos anos 20 não era fácil, imagine levando um carro, mecânicos e estruturas) e também ter mais de dez provas por ano, abrangendo quase oito meses de competições.

dos medalhões, praticamente só Meyer permaneceu.
Mas, no fim dos anos 20 os americanos passaram por grande crise financeira, culminando com a queda da bolsa em Nova Iorque. Um dos primeiros setores a sentir a crise foi o automobilístico. Em 1926, tivemos 16 etapas realizadas em mais de vinte corridas no ano, sempre com grids que beiravam os vinte carros e 40 inscritos para as 500 milhas de Indianápolis. Mas todos os envolvidos começaram a desistir (ou eram forçados economicamente a isso) pouco a pouco e o campeonato de 1929 teve oito provas (com apenas cinco contando para o campeonato) e penando para colocar 14 ou 15 carros no grid.

Os grandes medalhões dos anos vinte, como o bi-campeão Peter de Paolo, o campeão Harry Hartz, Franck Lockhart (que venceu a Indy 500 de 1926 em sua segunda corrida profissional), o bi-campeão Jimmy Murphy e o experiente Bennet Hill desistiram do automobilismo quase ao mesmo tempo, deixando o automobilismo quase que um duelo entre Louis Meyer e Ray Keech.

Meyer foi campeão em 1928 mesmo com uma vitória a menos que Keech (Meyer venceu duas provas e Keech venceu três, das sete provas do campeonato), pois Meyer venceu Indianápolis e essa valia o triplo de pontos das outras provas.

Apenas Keech tinha condições de duelar com Meyer.
Em 1929, o duelo se repetiria pelas cinco provas válidas pelo campeonato, que começava em 30 de maio na Indy 500 e terminaria em 2 de setembro, com uma segunda prova em Altoona. O campeonato tinha apenas quatro pistas (Indianápolis; Fairgrounds, traçado de uma milha de terra; a famosa corrida em Syracuse, também oval de uma milha; e o Altoona Speedway, oval de 1,25 milhas de terra).

Logo na Indy 500, Ray Keech venceu o campeão do ano passado em grande forma depois que Meyer teve problemas com a pressão de óleo no seu carro, Keech venceu com mais de seis minutos de vantagem para Meyer, o segundo colocado. E com isso já abria 480 pontos de diferença para seu principal rival. Num campeonato onde o vencedor das outras provas ganharia 200 pontos, era uma baita diferença.

Na corrida em Fairgrounds, Keech largava na ponta, mas na segunda volta seu carro quebra um pistão, e ele fica a pé. Louis Meyer não tinha grande desempenho naquela prova e acaba em segundo lugar, perdendo para Cliff Woodbury, que conquistou a sua segunda prova na curta carreira que acabaria em 1929 mesmo por dificuldades financeiras.
Até o grande acidente em Altoona (não mostrei o carro
de Meyer pois não achei de bom tom, esse é o carro de Woodbury).
A corrida em Altoona marcou definitivamente o campeonato. Meyer e Keech duelavam pela ponta novamente, já que os dois já tinham duas voltas de diferença para o terceiro colocado, Cliff Woodbury, mas na primeira curva da volta 120 (de 160 previstas) seu carro perde o controle na primeira curva com a presença de Woodbury, que iria levar sua segunda volta, quebra a cerca de madeira que delimitava a pista e bate violentamente em um barranco, morrendo no local. A corrida foi suspensa e Meyer foi dado como vencedor (Keech seria o vencedor, mas segundo a AAA carros que não completam a linha de chegada não podem pontuar), Woodbury não completou a linha de chegada e então Cliff Bergere terminou em segundo e Deacon Litz em terceiro, ambos três voltas atrás.

Mas automobilismo é assim, e o campeonato continuou com Meyer tentando fazer o máximo de pontos possível para ser campeão, mas o que ele não esperava é que um novato lhe desse canseira. Wilbur Shaw foi um dos poucos que conseguiu ganhar patrimônio naquela crise toda, e seu fascínio por carros tornou-se real quando ele disputou seu primeiro campeonato de forma completa, em 1929. Ele venceu as duas provas extra-campeonato até então, em Toledo e em Cleveland, mas não fazia bom campeonato, sem conseguir se classificar para a Indy 500 e Altoona (onde o piloto não chegou a tempo de correr na prova) e com corrida não muito boa em Detroit. Mas em Syracuse sua estrela brilhou.

Shaw se tornaria um cara foda futuramente, vencendo 3 Indy 500.
O piloto largou da lanterna na prova, e já estava em segundo na volta 50, mas quase um minuto atrás de Meyer. A vitória estaria decretada, se o carro de Meyer não sofresse novamente com a pressão do óleo e deixasse o piloto novamente a pé, deixando livre o caminho para Shaw vencer!

Para a prova final, Meyer teria que vencer para ser campeão, e largaria no quarto lugar da segunda prova de Altoona. Ele vinha na terceira posição na metade da prova, com Shaw em quarto, quando o carro de Shaw apresenta problemas e esse para na volta 81.

Mas Shaw acerta para andar no carro de Deacon Litz, que tinha quebrado o eixo logo na segunda volta; Shaw (junto com seu pai, seu mecânico e o próprio Litz) conserta o eixo e volta para a prova, quase uma hora atrás de Meyer. Contando com a quebra do carro de Cliff Bergere e passando Lou Moore, Meyer finalmente assume a ponta da prova na volta 148 (de 160 voltas), ganha a Altoona 200 (2) e se sagra bi-campeão em cima do finado Keech. Fred Frame passa em segundo, oito minutos depois e Myron Stevens completa o terceiro lugar, após largar de último. Shaw passa em quinto lugar, apenas 40 minutos atrás de Meyer e a frente de Billy Arnold e Fred Winnai.

1941.  94 dias.

Mays largando na ponta em Milwaukee
A vida continuava na terra do tio Sam e todos iam se recuperando aos poucos da grande crise, menos o automobilismo. O calendário e os grids ficavam cada vez mais minguados, a ponto de só haver quatro provas em 1940 e 1941, campeonato que abordaremos nessa parte.

Mays numa típica parada de dois minutos
da Indy 500 dos anos 40.
Em 1941, seriam disputadas apenas quatro provas, 3 válidas pelo campeonato (Indy 500, Milwaukee 100 e a corrida de Syracuse) e uma extra-campeonato, em Langhorne, aquela pista perfeitamente circular que sempre quebrava ossos de desavisados.

O grid também sofria com os efeitos da crise financeira agravados pela guerra que acontecia a oceano de distância, e os principais postulantes ao título ainda eram os mesmos faziam uns cinco anos. Com Wilbur Shaw, Ted Horn, Ralph Hepburn e Cliff Bergere anunciando que só disputariam a Indy 500 em 1941, o campeonato ficou praticamente para Rex Mays.

Mays foi campeão da Indy 500 e do campeonato de 1940 em condições parecidas e era o franco favorito para ser campeão em 1941.

Rose parando e "abandonando".
Mas Indy 500 era um espetáculo a parte, com vários dos antigos campeões, mas quem largaria na ponta era Mauri Rose, um dos pilotos que disputava a prova desde 1933 ficou em terceiro na Indy 500 passada. Mays largaria em segundo, Shaw em terceiro e Hepburn em quinto, enquanto Ted Horn largava só em 28º. Rose larga bem, mas mantém aponta apenas por seis voltas, quando foi ultrapassado por Mays. Assim se seguia até a volta 60, com Mays em primeiro e Rose em segundo, quando o carro de Rose tem problemas em uma das velas e ele para nos boxes definitivamente, ou não.

Davis saindo pra Rose correr.
Daí vem um tapa na cara daqueles que reclamam que se troca de pilotos depois do treino classificatório da Indy 500, como o que aconteceu com Bruno Junqueira duas vezes. Floyd Davis se classificou em 25º naquela corrida, e vinha guiando tranquilamente em 17º e penúltimo, o que deixou o dono de sua equipe, Lou Moore, possesso. Na volta 72, conta a lenda, Moore manda Davis parar nos boxes e tira o piloto do carro, colocando Mauri Rose em seu lugar. Sim, o dono da equipe demitiu o piloto DURANTE  as 500 milhas.

Mauri Rose assume o carro em penúltimo, quase três minutos atrás do líder Rex Mays, mas o piloto vinha inspirado, e empurrado pelo motor Offenhauser (claramente melhor que os outros motores) fez com que o piloto retirasse toda a diferença na volta 161, vencendo a prova com mais de um minuto de diferença para Mays, o segundo colocado, e Ted Horn, o terceiro. Apesar de tudo, Mays foi quem mais tirou vantagem de tudo, pois Rose teve que dividir seus pontos com Floyd Davis, e Mays foi o maior pontuador da Indy 500.

Rose (à esquerda) e Davis (à direita) campeões.
As outras provas foram vencidas por Mays com um pé nas costas. Mostrando grande consistência de seu equipamento e velocidade, Rex Mays venceu de ponta a ponta as provas de Milwaukee e Syracuse, sagrando-se campeão antecipadamente em Milwaukee em cima de Ted Horn e Mauri Rose.

1980, USAC.  91 dias.
Indianápolis adentrava nos anos 80 ainda cheia de problemas.
As cisões sempre são um problema. Após as relações problemáticas com uma parcela dos pilotos e donos de equipe que pediam maior profissionalização e medidas de segurança mais enérgicas, uma certa rusga, a perda de praticamente todos os diretores da USAC e do Indianapolis Motor Speedway em um acidente de avião e a criação da CART, a nova associação e seu campeonato praticamente fagocitaram o campeonato da USAC.

Rápido, mas mais feio que bater na mãe.
Entretanto, a USAC não largava o osso,  queria continuar sancionando corridas em ovais da forma que estava antes e brigava ferrenhamente com a CART pela sanção oficial das 500 milhas. John Cooper, então presidente do IMS, organizou uma aliança entre as duas partes em um campeonato co-chancelado pela CART e USAC, e os pilotos pontuaria em dois campeonatos nas provas principais e participariam de provas específicas de cada sanção.  Se você achava maio complicado ter CART de um lado e IRL do outro, imagine ter duas associações rivais juntas E separadas ao mesmo tempo.

Com isso, as cinco primeiras provas do campeonato em conjunto valeria para o campeonato da USAC, o chamado Gold Crown Championship, e também valeriam para o campeonato da CART (Ontário, Indy 500, Milwaukee, Pocono e Mid-Ohio), mas da sexta prova em diante seriam sancionadas apenas pela CART, valendo apenas para seu campeonato.

As cinco primeiras corridas do ano foram dominadas por Johnny Rutherford. Ele e seu ótimo chassi Chaparral venceram a prova em Ontário com o pé nas costas e uma volta de diferença para Tom Sneva.Venceu a Indy 500 largando da ponta e, mesmo sendo obrigado a fazer uma parada a mais ainda no início da prova, liderou mais da metade das voltas e completou mais de 30 segundos a frente de Sneva, novamente.

USAC passeando em Mid-Ohio.
O Chaparral de Rutherford tinha grande desempenho em altas velocidades, mas o seu calcanhar de Aquiles era quando se via obrigado a girar a menos de 160 milhas por hora. Nesse ponto, os chassis da Penske eram melhores, e Bobby Unser venceu as duas provas seguintes em Milwaukee e Pocono (Pocono também, o simples fato de fazer as curvas um pouco mais lento que o usual já atrapalhava Rutherford).Mas o líder do campeonato não se abateu, e completou em segundo nas duas provas, a fente de Sneva (que foi 6º em Milwaukee e 3º em Pocono).

Chegando a frente de Sneva em Pocono, Rutherford garantia matematicamente o título da USAC Gold Crown Championship, mesmo ainda faltando a prova em Mid-Ohio. John continou "tacando-lhe pau", pois ninguémligava para o campeonato da USAC mas sim para o da CART, que durava o anto todo. Para a prova no misto, John utilizou um Chaparral modificado para misto, sofrendo bem menos para fazer as apertadas curvas do circuito de Lexington e vencendo também essa prova.

Rutherford foi o primeiro campeão dessa nova era de campeonatos compartilhados da USAC, que não duraria muito tempo. 

1952, NASCAR. 55 dias.

Indy cars em Daytona Beach, 1952.
Prepare-se para um bug em seu cérebro. O fato da NASCAR e da Indycar rivalizarem hoje em dia faz com que essa parte toda pareça surreal, mas sim, NASCAR já teve Indy cars em seu plantel de 200 categorias diferentes.

Isso acontecia devido ao desgaste da imagem da AAA. O número de mortes durante os fins de semana de corridas começava a chamar a atenção, incluindo a morte de grandes personalidades do automobilismo. Para efeito de comparação, em 1946, logo após o campeonato ser reaberto com o fim da segunda guerra mundial, houveram sete mortes durante fins de semana de corrida, incluindo o vencedor das 500 milhas de 1946, George Robson. Pela AAA ser um órgão associado ao governo americano, cada vez mais a imagem dela ficava desgastada em cada morte e cada vez mais a combinação de ovais e Indy cars era rotulada como altamente mortífera.

Indy Cars em Martinsville
A morte de Robson e dos campeões Ralph Hepburn, Ted Horn e Rex Mays fizeram a AAA perder cada vez mais o ânimo em se associar com os Indy cars, deixando brechas para outras chancelas tentarem organizar campeonatos de Indy car e, entre elas, estava a NASCAR.

Em meados de 1951, a NASCAR anunciou que faria um campeonato específico para os Indy cars, começando por uma corrida contra o relógio em Daytona Beach como corrida de exibição (essa da foto acima). Dos doze inscritos, apenas sete alinharam, e o vencedor foi Buck Baker (o terceiro carro de baixo para cima).

Os carros eram praticamente montados pelos próprios pilotos em garagens improvisadas e nenhum dos pilotos que disputavam o campeonato regular da AAA chegou a correr nesse campeonato. Os pilotos da NASCAR Indycar Championship (o nome do campeonato não era esse, mas coloquei só pra bugar mais o cérebro de vocês) correram em pistas como Darlington, Martinsville, Charlotte e Atlanta, com carros cerca de quinze a vinte milhas mais lentos que seus irmãos da AAA.

Buck Baker em Daytona Beach.
A disputa do campeonato ficou principalmente entre Buck Baker (que venceu em Daytona Beach e em Darlington), Wally Campbell (Vencedor em Rochester e Charlotte) e Tom Cherry (vencedor das duas últimas provas, em Heidelberg e Langhorn). Nas duas provas finais Baker e Campbell disputavam o título, mas a constância de Baker venceu, e o piloto se sagrou o primeiro campeão da Nascar Indycar Series.

Essa tentativa durou somente mais um ano, em um campeonato mais curto ainda, com apenas 16 dias e três etapas em Martinsville e em outros dois ovais de 1/3 de milha. Pete Allen se sagrou campeão em cima do futuramente famoso Ralph Liguori por apenas três pontos, quando Allen venceu a prova e Liguori não terminou.

Dois anos depois, em 1955, a AAA anunciava que não mais sancionaria as corridas de Indy Cars, quando a gota d'água veio com a morte de Bill Vulkovich nas 500 milhas daquele ano e o grande acidente em Le Mans, que vitimou 38 pessoas.

1984/1985 a 1994/1995, USAC.  1 dia.
Não era uma exibição de carros, mas sim uma prova da USAC, todos da MESMA CLASSE.
Depois de causar hemorragia cerebral nos leitores tendo fazer eles entenderem a mistura da NASCAR Indy Cars Championship, voltamos aos conflitos USAC/CART e como algo pode regredir ao ponto de haver um campeonato com apenas uma corrida.  Por esse motivo, começaremos tudo em 1981.

Bobby Unser vencendo as 500 milhas de 1981
Bem, vocês lembram de todo o imbróglio que teve entre a CART e a USAC, que eu resumi muito e de um jeito não muito legal dois itens acima.

Pois bem, o mesmo acordo em 1980 vigoraria em 1981, com as primeiras provas contando para o calendário da USAC Gold Crown Championship e e da CART ao mesmo tempo, e as provas posteriores valendo para o campeonato da CART. Mas é como disse Schöndinger, "um estado de ambivalência só permanece nesse estado caso não haja perturbações em seu ambiente.". Houve perturbações no ambiente da CART e da USAC, e todo o estado de ambivalência que era o acordo de co-chancelarem o campeonato se desfez.

Mário Andretti vencendo as 500 milhas de 1981.
O ano de 1981 começaria na Indy 500, no fim de maio e, seguindo a linha das duas últimas Indy 500, deu problema. Próximos do quarto final da prova, Bobby Unser e Mário Andretti disputavam a ponta da prova praticamente sozinhos, quando na volta 149, durante a bandeira amarela, Bobby Unser aproveitou a falta de limite de velocidade nos pits para fazer sua parada e ainda conseguir passar alguns carros retardatários.

No fim Bobby Unser venceu Andretti e sagrou-se campeão, mas a USAC retirou seu título, julgando aquele movimento durante a bandeira amarela ilegal. Com isso, Mário Andretti era o novo campeão e Bobby Unser era a nova pessoa mais puta e desiludida com o automobilismo.

Unser entrou com recurso e declarou que, caso o resultado não fosse revisto, nunca mais pilotaria um carro de corrida. Apoiado pelos detratores da USAC (que, naquela altura do campeonato, praticamente todos os seres envolvidos com corridas), a CART desconsiderou o resultado dessas 500 milhas do seu campeonato e boicotou a presença de seus pilotos nas 500 milhas  de Pocono, alegando que quem participasse dessa prova receberia uma suspensão de sua licença por dois meses.

Não me canso de ver a bizarrice dessa imagem.
No fim a USAC voltou atrás e declarou Unser como vencedor das 500 milhas de 1981 vários meses depois, mas não lhe deu os pontos no campeonato e Mário Andretti, o novo segundo colocado, foi quem mais sofreu perdendo 200 pontos que era a diferença entre o líder e o segundo colocado nas 500 milhas.

A USAC, então tinha apenas 13 Indy Cars inscritos para a prova em Pocono e, em uma medida desesperada, liberou que os carros da classe prata (os midgets) também corressem a prova, valendo o mesmo resultado. Como desgraça pouca é bobagem, choveu e a prova foi terminada com 305 milhas percorridas e um monte de bandeiras amarelas.  AJ Foyt venceu, com Geoff Brabham e segundo e Tom Bigelow em terceiro. O melhor midget foi o de Mark Alderson, que chegou em 11º, 18 voltas atrás.

George Snider foi o único campeão da
Gold Crown oriundo da terra, em 1982
Depois de todo essa confusão, foi acordado entre a USAC e John Cooper que a associação chancelaria apenas as 500 milhas de Indianápolis das corridas do calendário normal de monopostos.

Ela ainda tentou montar um campeonato com algumas corridas em ovais de terra, tendo a última etapa nas 500 milhas de Indianápolis; mas esse formato de campeonato não funcionava, pois as 500 milhas valiam muitos pontos e os pilotos que disputavam as corridas do campeonato na terra não conseguiam se classificar para a última prova do ano em Indianápolis. Com isso, esses pilotos quase nunca tinham chances de serem campeões da USAC Gold Crown Championship.  O único a conseguir a façanha foi George Snider, no campeonato de 1982/83.

Devido a todos esses problemas, o interesse nesse campeonato diminuiu e, em 1984, apenas as 500 milhas de Indianápolis fazia parte do calendário, pois a USAC já havia firmado contrato com os donos do IMS. E assim foi até 1995.


Os carros da Gold Crown na terra são até interessantes (repare na asa dianteira toda torta).
Depois de 1995, o acordo entre a USAC e o Indianapolis Motor Speedway acabou, e veio outra cisão para (des)animar as coisas, e daí voltamos para o primeiro item do texto, do campeonato oriundo da cisão entre CART e IRL.  A USAC continua até hoje numa boa, e a Gold Crown Championship continuou existindo, dessa vez com corridas apenas na terra, onde é a sua praia.



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