Mais de cem anos de história trazem muitas situações inusitadas, históricas e, por consequência, alguns recordes que se tornam inquebráiveis na Indy atual do mundo moderno.
Recordes que nem Scott Dixon conseguiria bater... talvez.
Apesar de vivermos em uma época onde temos de correr atrás de relevância em um mundo onde o automobilismo se torna cada vez mais nicho, estamos em uma época especial na Indy. Isso porque muitos dos recordes que outrora pareciam inquebráveis vem tendo cada vez mais suas bases abaladas. Recordes como maior número de vitórias (67 de AJ Foyt), poles (56 de Mário Andretti) corridas (407 de Mário Andretti) e até mesmo que alguns nem imaginavam que poderiam ser quebrados, como o de maior número de temporadas com pelo menos uma vitória e maior número de títulos (18 temporadas e 7 campeonatos de AJ Foyt, respectivamente) vem sendo ameaçados por Dixons, Kanaans e até mesmo Castroneves.

Mas, existem alguns que são inquebrávies no automobilismo atual. Isso porque o mundo mudou, e a Indy mudou mais ainda desde a sua criação, em 1905, ainda sancionada pela American Automobile Associacion, ou triple A para os íntimos. Vejamos nove dessas histórias que geraram recordes impossíveis de ser batidos. Eles estão em ordem cronológica, do mais novo para o mais velho.

9  Campeão com o maior número de pontos: Al Unser (5130 pontos)

Al Unser dez mil anos antes do "Bateu Al Unser".
Aqueles que muitos chamam de "o ano de ouro de Al Unser", onde o americano conquistou o primeiro título da Indy somando mais de cinco mil pontos em apenas uma única temporada, vencendo dez das dezoito provas de 1970. 

Mas como fazer cinco mil pontos em uma só temporada?

Isso porque tanto a AAA quanto a USAC, os dois primeiros órgãos a sancionarem a Indy, tinham pontuações bem esquisitas, que se baseavam no tamanho das provas para premiar os pilotos. O primeiro colocado de cada prova ganhava sempre dois pontos por milha da distância total da prova, o segundo ganha 1,6 pontos e assim por diante. Isso ajudava bastante os pilotos que eram pobres e podiam correr algumas corridas específicas (as que eram mais longas e valiam mais pontos), mas também fazia a tabela de pontos ficar uma loucura parecida com isso:


Por isso o único título de Al Unser na USAC, que venceu uma prova de 500 milhas, uma prova de 300 milhas, uma prova de 200 milhas, duas prova de 150 milhas e cinco provas de 100 milhas conseguiu mais de cinco mil pontos.

Vale ressaltar também que, por causa dessa pontuação gigante, a pontuação total de pilotos com carreiras gigantescas, como AJ Foyt, da Família Unser, Mario Andretti e Johnny Rutherford talvez nunca sejam superados também. Foyt, em sua carreira de 37 anos como piloto, tem 48.809,2 pontos (logo explico o motivo de existir pontuações quebradas mais pra frente) registrados e é o piloto que mais fez pontos na história da Indy.

8 Maior porcentagem de vitórias em uma temporada: AJ Foyt em 1964 (77% de vitórias, 10 em 13 provas)

Uma época em que se Foyt terminava uma prova, ele vencia.
Na temporada de 1964 da USAC, AJ Foyt ganhou todas as corridas em que completou a prova. Naquele ano, o ford #1 de AJ Foyt quebrou a transmissão na primeira volta da corrida 2 de Milwaukee, quebrou a embreagem na corrida 2 de Trenton e bateu enquanto liderava a prova final em Phoenix. 

Mas, de resto, em todas as corridas do ano, ele ganhou. Sendo as sete primeiras provas do campeonato seguidas. Como no campeonato so tinha uma prova mais longa, as 500 milhas de Indianápolis, Foyt somou "apenas" 2900 pontos, contra 2120 pontos de Rodger Ward. 

Lembrando que, no ano anterior, Foyt já tinha sido campeão após completar todas as provas, menos a última etapa do campeonato, entre os cinco primeiros.

Esse é só mais um momento de apreciação da habilidade de Foyt mesmo.

7 Maior número de vitórias em uma temporada sem ser campeão: Jimmy Bryan, 1955 (6 vitórias em 10 provas)

Jimmy Bryan ganhou tudo menos a Indy 500, e não foi campeão.
A pontuação escalafobética da triple A e copiada pela USAC causava essas anomalias históricas. Jimmy Bryan que, das dez provas do campeonato da AAA em 1955 completou oito delas entre os cinco primeiros e venceu seis provas, terminou o campeonato em segundo lugar, atrás do americano Bob Sweikert, que também completou oito provas da temporada entre os cinco primeiros, mas venceu apenas duas provas.

Isso porque a pontuação valorizava muito provas muito longas e, no caso de uma temporada ter apenas uma prova longa, essa prova tinha muitos pontos em disputa. Em 1955, só haviam duas provas que não tinham a pontuação de 100 milhas: as 500 milhas de Indianápolis e as 250 mlhas de Milwaukee.

Assim, quando Sweikert venceu as 500 milhas daquele ano marcou MIL pontos, enquanto Jimmy Bryan teve problemas na injeção de combustível de seu carro enquanto liderava e abandonou a prova, marcou zero pontos. 

Bryan tentou se recuperar e, depois de vencer em Langhorne, Illinois, DuQuoin, Indiana, Sacramento e Phoenix, não conseguia chegar muito perto de Sweikert, pois, com a regularidade de seu adversário, ele não conseguia descontar mais de cem pontos.

No fim do campeonato, Sweikert se sagrou campeão com três provas de antecedência, quando ele terminou na frente de Bryan em Syracuse e seus outros concorrentes naquele ano (Tony Bettenhausen, Andy Linden, entre outros) vinham com problemas financeiros e não disputaram a temporada toda.

Mas ficou registrado para sempre o feito de Jimmy Bryan, que venceu 60% das provas do ano e não foi campeão.

6 Piloto com mais pontos na temporada sem largar uma prova: Paul Russo, 1955 (300 pontos). 

Esse é o Tony Bettenhausen em 1955.
Em 1955, Paul Russo tentou largar nas 500 milhas de Indianápolis, não conseguiu. Essa foi sua única prova do ano, e marcou 300 pontos, terminando o campeonato em 16º.

Como?

Bem, devido a uma particularidade das 500 milhas até os anos 60: o revezamento de carros. Muitas vezes, devido a problemas no carro, porque o piloto em questão não queria/conseguia pilotar por 500 milhas seguidas ou até mesmo porque o dono do carro demitiu o piloto e contratou outro durante a prova, muitos carros trocavam de pilotos nas paradas, que duravam até um minuto e meio. As vezes, mesmo com os revezamentos, o carro conseguia chegar entre os doze primeiros e marcar pontos, ou até mesmo vencer, como no caso de Mauri Rose/Floyd Davis em 1941 e L L Corum/Joe Boyer em 1924. Nesses casos, a pontuação era dividida entre os dois, de acordo com a proporção que cada um pilotou na prova. Vejamos no caso de 1955:

Tony Bettenhausen vinha recém de uma cidente forte em Chicago, onde o capacete dele voou e, com isso, bateu a cabeça nua direto no muro de concreto. Para a primeira prova do ano, logo as 500 milhas de Indianápolis, ele não sabia se conseguiria pilotar durante as 500 milhas e, um dia antes, contratou o piloto Paul Russo para ficar lá e dirigir o carro de Bettenhausen quando esse não conseguisse. Bettenhausen conseguiu a primeira fila, mas já antes da volta 50 caiu bastante de rendimento, com o piloto dizendo que a visão estava ficando cada vez mais embaçada. Ele parou na volta 55 e descansou, enquanto Russo subia no carro e pilotava o #10. Muito tempo depois, Bettenhausen se sentia melhor e retornou para a prova na volta 133 e, com um monte de gente tendo problemas no fim da prova, conseguiu subir do quinto para o segundo lugar em trinta voltas e terminou a prova no segundo lugar.

No entanto, Bettenhausen levou apenas 500 dos 800 pontos que o segundo lugar tem direito, pois Russo disputou 40% da prova no carro #10 e ganhou 300 pontos. 

Como Russo já estava a algum tempo correndo apenas 500 milhas, ele só correu essa prova, não largou e fez 300 pontos no campeonato.

Aliás, foi desse modo que AJ Foyt conseguiu a pontuação quebrada. Na Milwaukee 200 de 1959 ele não conseguiu se classificar para a prova, mas pilotou o carro de Jim Rathman quando esse teve problemas de suspensão na volta 29. Os mecânicos de Foyt consertaram o carro, com ele entrando novamente na prova uma volta e meia atrás e chegando na corrida no quarto lugar. O quarto lugar em uma prova de 200 milhas valem 240 pontos, 34,8 foram dados para Rathman, que correu no começo da prova, e 205,2 pontos foram dados para Foyt, que correu o resto.

5 Maior número de pilotos dirigindo um mesmo carro: Indy 500 de 1954 (cinco pilotos).

Eu não sei qual piloto é esse.
Bem, existem casos extremos de revezamento, como o do carro #45 na Indy 500 de 1954.

Art Cross era um ótimo piloto, mas que gostava mesmo era de correr nos Midgets das Dirt Tracks. Indianápolis não era muito sua praia. No entanto, Cross era um piloto bastante promissor, e era contratado para correr as 500 milhas de Indianápolis; em 1952 ele terminou a corrida em quinto, em sua estreia; e em 53 ele foi vice-campeão, ficando atrás só de Bill Vukovich.

Em 1954 ele foi contratado pela Bardahl, num dos carros mais rápidos da categoria. Apesar de ter conseguido classificação apenas no penúltimo dia, ele saiu de 27º para brigar pela liderança já na 50ª volta. Daí pra frente o rendimento do #45 começou a cair por um dos motivos mais inusitados: Art Cross estava acostumado com corridas menores e com carros que exigiam bem menos do físico do piloto; como as 500 milhas demoravam muito mais tempo que o usual, Cross estava cada vez mais cansado, e ele abandonou o carro nos boxes na volta 122, quase desmaiando.

Quando o carro estacionou nos boxes, já haviam quatro pilotos ao lado do pit wall, esperando. O #45 era o último dos três carros da Bardahl que estava na prova, Bardahl esta que tinha contratado cinco pilotos (contando com Cross) para disputar a prova. Assim, os quatro, meio que se divertindo e meio que mostrando para a Bardahl que eram bons pilotos e garantir um contrato para o ano que vem, correram cerca de vinte voltas cada um no #45.

Primeiro veio Johnnie Parsons, o vencedor da Indy 500 de 1950, que tinha abandonado na volta 76 por um problema no motor. Depois veio Sam Hanks, que tinha batido seu carro na volta 112. O quarto piloto do #45 foi Andy Linden, que abandonou na volta 87 e subiu no carro de Cross logo depois de sair do carro de Johnny Thomson, que vinha com problemas. E, por último, na volta 171, entrou o piloto Jimmy Davies, que não tinha se classificado para a prova e entrou no #45 logo depois que saiu do carro de Sam Hanks.

Ah sim, o carro terminou em 11º, oito minutos e meio atrás do vencedor Bill Vukovich. O 11º lugar nas 500 milhas de Indianápolis dá 100 pontos no campeonato: 59,5 deles foram para Art Cross, 14,5 foram para Jimmy Davies, 12,5 para Johnnie Parsons, 8 para Andy Linden e 5,5 para Sam Hanks.

Andy Linden, por causa dessa prova e esse revezamento todos, também tem um curioso recorde na F1: o único piloto a ter terminado três vezes a mesma prova.

4 Maior número de vitórias num mesmo dia: Ralph de Palma (28 de julho e 17 de agosto de 1918) e Johnny Aitken (9 de setembro de 1916)


Sim, isso mesmo. Corridas e vitórias num mesmo dia.

Antigamente, nas primeiras provas da triple A, a dinâmica era bem diferente. Não haviam treinos de qualquer forma, sejam sessões livres ou classificatórias, sendo que eram feitas algums corridas como se fossem de exibição, corridas menores, onde os pilotos disputavam mas não com tanto afinco quanto o evento principal. O curioso é que todas as provas contavam separadamente para a sanção, como se cada corrida fosse realmente uma etapa (tanto é que, posteriormente, nas recorreções históricas da triple A elas eram contadas como etapas separadamente).

Assim, apenas dois pilotos conseguiram vencer duas corridas "de treinamento" e a corrida real. Em 1916, o velhaco Jack Aitken correu a Harvest Auto Classic, corrida realizado dentro de uma feira que acontecia no Indianápolis Motor Speedway em setembro de 1916,  e venceu a primeira corrida de 8 voltas, a segunda corrida com 20 voltas e o evento maior, com 40 voltas. Já Ralph de Palma fez isso duas vezes em 1918: no oval longo de Chicago (vencendo as preliminares de 5 e 10 voltas e a corrida principal de 15 voltas) e no oval de madeira de Sheepshead Bay (vencendo as preliminares de 10 e 15 voltas e o evento principal de 25 voltas).

As rodadas duplas acontecem ainda hoje na Indy, mas em formatos e condições bem diferentes. Bater esse recorde de vencer mais de três corridas num mesmo dia parece impossível em um futuro bem longo.

3 Curcuito mais longo: Estrada entre Los Angeles e Phoenix, 1909 (419 milhas)

Nikrent Bros. Sim, é nesse nível de velhice que chegamos.
Sim, um Rally no campeonato da Indy. O Cactus Derby foi uma corrida sacionada pela triple A no ano de 1909 que consistia, basicamente, de uma largada em Los Angeles, e chegada em Ehrenburg, cidade logo ao lado de Phoenix (a chegada foi mudada durante a prova porque, um dia antes, os carros tinham sido proibidos de circular na cidade de Phoenix). 419 milhas, ou 674 quilômetros, era a distância calculada na época, já que não haviam estradas fixas entre as duas cidades.

Além disso, o formato era completamente de Rally: cada piloto saía do mesmo ponto mas com diferança de quinze minutos entre um e outro e, no fim, não valia mais quem chegava primeiro, mas sim o tempo total de percurso. Os vencedores foram os irmãos Joe e Louis Nikrent, que foram os penúltimos a sair, mas foram os primeiros a chegar em Ehrenburg, entre os dez pilotos a participarem da prova. Eles completaram a corrida com 19 horas e 13 minutos. 

2 Maior diferença de vitória: Atlanta Race 1 (1910): 20 voltas; Cactus Derby (1909): 4 horas e 22 minutos.


O segundo colocado da Cactus Derby, carro Columbia pilotado Harold Stone e Charles Hillingsworth, fizeram o tempo de 23 horas, 35 minutos e 22 segundos, mais de quatro horas mais lentos que os irmãos Nikrent na vitória, dando origem a maios distância horária entre o primeiro e o segundo colocados.

A maior diferença quando falamos em circuitos fechados, que é a grande maioria dos circuitos da Indy, aconteceu em Atlanta, em 1910. Em maio foi organizado um evento no Atlanta Motordrome, o grande oval de madeira na cidade de Atlanta, com quase duas milhas de extensão. Nela aconteceu uma das primeiras aparições do lendário Marmon Wasp, que viria a vencer as primeiras 500 milhas de Indianápolis.
Estreia do Marmon Wasp.
O evento principal era uma corrida de cem voltas, na época quase um endurance, em um oval de madeira. Apenas quatro carros largaram e dois abandonaram, incluindo Jack Aitken, que estava na liderança. Assim, na volta 26 só haviam o Marmon Wasp e um carro de rua correndo. Ray Harroun, que pilotava o Marmon Wasp e já estava já três voltas na frente de Lewis Strang, terminou vinte voltas na frente, pois ele fez a prova toda sem paradas enquanto Strang parava para abastecer a cada doze ou treze voltas.

Esse carro, o Marmon Wasp, vinha revolucionando não por ser o mais rápido, mas sim por ser o mais eficiente no quesito aerodinâmica, consumo de combustível e até mesmo pelo espelho retrovisor, que não requeria um mecânico a bordo e fazia ele ser ainda mais leve. E foi eternizado não só vencendo a primeira prova de 500 milhas da história, mas também com a maior diferença em uma prova da Indy.

1 Campeão com menos pontos: Barry Oldfield, 1905 (22 pontos)

Época boa em que carros disputavam corridas com aviões.
O campeão do primeiro campeonato da triple A, Barry Oldfield, ficou marcado (e provavelmente ficará para sempre marcado) como o campeão com menos pontos. Oldfield e seu carro Peerless, ganharam cinco das oito corridas que participou (o segundo que mais participou de corridas, Louis Chevrolet, fez apenas quatro provas). 

Oldfield e seu carro Peerless ocasionaram grandes disputas com Louis Chevrolet e seu Fiat 90. Os dois disputaram duas corridas (praticamente dois duelos, pois apenas os dois correram essa provas): em Hartford, onde Oldfield ganhou quando Chevrolet teve o acelerador de seu Fiat quebrado; e em Brunots, quando Chevrolet completou as dez voltas da prova mais rápido que Oldfield. 

Isso aconteceu porque o primeiro sistema de pontos feitos da Indy era o mais simples possível. O primeiro colocado ganhava 4 pontos, o segundo ganahva 2, e o terceiro somava 1 pontinho. Isso, em grids que variavam de dois a, no máximo, cinco carros. Inicialmente a AAA pensou em colocar um sistem de medalhas igual as olimpíadas mesmo, mas acabou optando pelo sistema de pontos mesmo. Talvez fosse melhor o sistema de medalhas, já que poucos podiam rodar parte dos EUA para ir de uma prova a outra e, no fim, Oldfield ser campeão sobre Chevrolet pelo simples fato de ter disputado mais corridas do que o seu rival.

Mas daí não teríamos o recorde inquebrável que temos atualmente.


E esse é o Top X! Se você tiver alguma questão ou alguma lista que seja intrigante ou mereça que eu perca meu tempo pesquisando essas coisas basta nos mandar uma mensagem na nossa página no facebook ou mandar um e-mail para indycenterbr@gmail.com

Até a próxima pessoal!!

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