Tantas provas canceladas, tantos eventos engatilhados, mas que, por uma razão ou outra, nunca são levados a cabo, e, quando são, a continuidade se torna novo sofrimento. O que acontece com os eventos da Indy?
A mais nova falência da Indy.
Qing Dao, Brasília e Boston. Essas cidades, além de mais de dois milhões de habitantes, tem uma triste semelhança para todo indyanista: tiveram corridas da Indy canceladas. Sem contar a época de Champ Car, a categoria nunca conviveu com tantos cancelamentos, sem contar os eventos sem grande longevidade, como em NOLA, Houston, Baltimore e até a SP Indy 300 no Anhembi.

"Circuito" de Tindau.
Viemos por meio deste explicar o que acontece com esses eventos. Por que se tornou tão dificultoso e, até  podemos dizer, mal planejados, todos esses eventos?

Primeiramente, é preciso eliminar as causas pontuais de cada um desses eventos para que possamos mostrar o motivo mais profundo e a causa raiz de cada uma desses cancelamentos. Alguns podem alegar que as irregularidades na reforma do autódromo de Brasília, ou a autorização ambiental final do conselho de Boston ou a festa cervejeira de Qing Dao foram as causas dos cancelamentos das provas da Indy nesses locais. A causa dos cancelamentos vem de algo mais profundo, e não está ligado as administrações dos eventos, e sim a própria categoria.

Atualmente, a Indy segue o modelo que chamo de "show": uma(s) pessoa(s) local(is) interessada(s) em ter a Indy em um determinado local mostram seus planos para a Direção da INDYCAR, que é o órgão que direciona, organiza e preside a categoria. A INDYCAR analisa e dá seu aval e, a partir daí, o evento começa a ser organizado. Com tudo certo, a categoria leva toda sua estrutura para o local, a corrida acontece, a categoria recebem seu valor, e a Indy vai embora, com os organizadores dividindo o lucro/prejuízo.

Sim, é isso mesmo, a organização da Indy, a INDYCAR, tem participação mínima do evento. Desde organizar e fornecer estrutura até ações de marketing e divulgação da prova. A Indy não tem nem participação ou responsabilidade nos lucros, esses ficam todos para os organizadores e a categoria sai com a parte que é acordada no contrato. Essa, ao meu ver, é a principal deficiência dos eventos da categoria, pois a própria categoria não se envolve neles.
Fail de 2015.
Não parece, mas esse fato atrapalha todo o desenvolvimento de um evento, e é um defeito tão complicado que até eu, que conheço muito pouco e eventos de grande porte, percebi. Sem o apoio da INDYCAR, a organização parece se perder em pontos que parecem simples para quem está inserido no mundo da Indy, mas que são um grande mistério para quem vê a coisa toda de fora.

Por exemplo, talvez, com uma direção maior da INDYCAR no evento, a prova de Brasília não se realizaria num autódromo com uma obra tão irregular, os problemas burocráticos de Boston seriam mais adiantados (ou, ao menos, atenuados), e o marketing de Fontana seria um pouco melhor, pelo menos para não ficar apenas dez mil pessoas no autódromo assistindo a prova do ano passado. A categoria se envolver com o evento traz mais credibilidade a ele e ajuda a atrair patrocinadores, não fazendo com que etapas como a de Qing Dao e a de Brasília fiquem quase sem detalhes da forma que ficaram no período em que estiveram no calendário. Também evitariam (ou, pelo menos, atenuaria) as mudanças de última hora feitas no sambódromo do Anhembi e no asfalto cheio de saltos de Houston e Baltimore. Todos esses erros que, direta ou indiretamente, culminaram na saída ou na não-renovação dessas provas todas; poderiam ser evitados ou diminuídos com alguma consultoria da INDYCAR, e só traz mais ar de amadorismo (no mau sentido) a categoria.

Mas, de onde veio essa decisão de não se envolver com os eventos? 

Veio do longínquo ano de 2009, da reunificação.

Antes, quando a Indy estava dividida em IRL e Champ Car, ambas as divisões/diretorias se envolviam até os ossos em cada evento que promoviam. Enquanto a categoria de Tony George assumia o marketing de todos os eventos do calendário da IRL, criava categorias e promovia eventos paralelos as corridas e até cobria custos de prejuízos em algumas provas; a categoria de Kalkhoven e Vasser literalmente assumiam todo o trabalho em várias de suas provas: organizavam, promoviam, divulgavam, chupavam cana e
Houston com maravilhas <3 Chicanes de pneus <3
assoviavam.  Por esses motivos, víamos várias provas da IRL que tinham públicos muito pequenos mas aconteciam ano a ano, e a categoria conseguia cada vez mais se consolidar no meio-oeste americano e, bem, graças a isso ela tinha mais de meia dúzia de provas no ano.  A Champ Car, com suas expedições para fora dos EUA ficou realmente conhecida na Europa e Ásia e ser a primeira categoria americana a consolidar sua imagem lá desde sei lá quando, consolidando alguma imagem lá, mesmo que fosse de versão pobre e de pilotos ruins da F1.

Entretanto, em 2008 ocorreu a rápida compra fusão da Champ Car com a IRL, tão rápida que mal se conseguiu coordenar direito. Durante esse ano que foram definidas as diretrizes da nova IRL, que se tornaria INDYCAR em 2011, e, entre elas, estava o pouco ou nulo envolvimento da direção da categoria na organização das provas, se limitando apenas as 500 milhas de Indianápolis. 

Um dos 35 engavetamentos nos três anos de Baltimore.
Isso porque muitos donos de equipe, ex-organizadores da Champ Car e até alguns donos de circuitos (como o de Road America, o ex-dono de Laguna Seca e a D3, que organizava metade dos eventos da ex-categoria) julgavam que a forma de Tony George gerir esses eventos fazia com que ele tivesse controle sobre as provas, e eles tinham medo de que a família Hulman-George decidisse exercer sua influência para privilegiar seus aliados (como AJ Foyt, Vision, Panther, entre outras).  Dessa forma, a INDYCAR acaba quase se abstendo de várias discussões importantes, como detalhes maiores de chassis e aerokits, motores e também do assunto desse texto, a organização dos eventos. E assim estamos, de 2009 até agora com pouquíssimo envolvimento da INDYCAR nos grandes prêmios realizados e arcando com a co-autoria das falências desses inúmeros eventos.

Alguns dos eventos do calendário deram uma volta e, ao invés de se envolver com a categoria, se envolvem com pessoas importantes dentro dela, como o Roger Penske (Detroit), Kevin Kalkhoven (Long Beach), AJ Foyt (Pocono) e Michael Andretti (St Pete, Barber e uma dúzia de outros eventos novos, incluindo os fracassos de NOLA e Milwaukee) ou já estão na estrada dos monopostos americanos a muito tempo, como Mid-Ohio, Texas, Toronto.

Mas os novos eventos que não podem/querem/conseguem esse contato com donos de equipe acabam penando na hora de fazer coisas que quem já tem expertise guiaria com muito mais facilidade, e o resultado vemos com cancelamentos oriundos de coisas que, em outras ocasiões de outras categorias, acontecem com frequência bem menor. Um envolvimento da categoria não é apoiado por uma boa parte da comunidade que integra a Indy, e esse maior envolvimento da INDYCAR pode ser mal visto. Mesmo num clima de establidade aparente, é sempre bom não fazer inimigos dentro de casa.


Obs: Muitos podem argumentar "Mas Willy Herman (atual detentor dos direitos da Indy  no Brasil) e Vitor Meira (ex-piloto) participaram ativamente do projeto em Brasília..." Sim, mas há (deve haver, não entendo tanto disso) uma diferença gigantesca entre ex-pilotos e detentores organizarem um evento e uma agência/pessoa já com nome ativo e grande expertise em realizar provas da Indy, como Andretti e outros. Não querendo dizer que Herman e Meira não sabiam o que faziam, mas, talvez, alguém já com conhecimento talvez tivesse mais jogo de cintura para contornar situações, evitar reformas desnecessárias ou usar planos melhores (comocircuito de rua em Brasília).

10 comentários:

  1. Ótimo texto!
    Concordo que o envolvimento maior da categoria na organização dos eventos seria bem melhor, quem está lá todo o dia metendo a mão na massa, sabe o que é necessário fazer para que as coisas fluam bem. Aliás, o sucesso da CART (em seus anos iniciais até os anos 90) se deu por causa disso, pois a categoria foi feita pelos chefes de equipe que estavam insatisfeitos com a direção da USAC.

    Mesmo que tudo isso tenha iniciado em 2009, nesse período de "reunificação" (e pós também), ainda tivemos um calendário recheado e equilibrado. A partir de 2012 que o calendário da Indy começou a ter a cara que tem hoje, tendo o cancelamento do GP da China e a exclusão/descontinuidade dos GPs de New Hampshire (uma pista sonolenta na minha opinião), Japão, Kentucky e Las Vegas.

    Apesar desse envolvimento maior da INDYCAR encontrar muita resistência interna, acho que o melhor que ela poderia fazer é recorrer/retornar aos circuitos ovais e mistos permanentes com os quais ela tinha acordo e correr atrás de acordos com emissoras de TV ABERTAS, pois acho que isso seria uma boa forma de atrair a atenção do público e dos patrocinadores.


    Um abraço!

    Karl

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  2. Ótimo texto. Complementando, Pruett falou no início da semana que a categoria deveria trabalhar pra voltar a lugares onde fazia sucesso, como Portland, e não "aceitar" propostas de eventos onde não tem tradição, como Boston.

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    1. Sim, concordo!
      O pior não é falta de tradição, pior é que esses circuitos de rua acabam atrapalhando a vida de muita gente e também atrai a atenção dos "eco-chatos", hahaha.



      Karl

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  3. Penso que no caso do Brasil, (Brasília) e até mesmo em São Paulo, os problemas maiores foram causados por pura incompetência daqueles que deveriam fiscalizar as obras, do Prefeito e de diretores da Band...bem antes de qualquer erro da IndyCar. São Paulo aconteceu na marra..num traçado duvidoso,numa epoca de chuvas em uma cidade de chuvas, entre outras coisas.. Brasília nem se fala pela incapacidade e competência mesmo de todos envolvidos.

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    1. Então, Peterson.

      Concordo contigo quanto a culpa das prefeituras. Elas foram as principais culpadas de não termos Indy no Brasil devido a sua incompetência.

      Entretanto, acho que a Indy tem uma culpa indireta, ao deixar na mão de órgãos incompetentes (como as prefeituras, Boston também era organizada pela prefeitura de lá) a organização de suas provas. Se ela quer que seus eventos sejam melhores organizados, ela mesmo deve tomar parte maior na organização. Senão, o mesmo ciclo de deixar os eventos na mão de incompetentes vai acontecer de novo e de novo e de novo...

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  4. Parece até que com o envolvimento da Indy e consequentemente gastando mais, seja pior do que não se envolver e ter que passar por esses vexames, ter a imagem da categoria totalmente arranhada e sem apelo qualquer, ta no nome da categoria Indycar Series então essa postura é totalmente inconsistente com o seu verdadeiro propósito, o IMS tem que ser ativo e atuante sim.

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    1. Quanta besteira, entendi nada.


      Karl.

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    2. Por favor, não utilize o meu "nickname". Sei que parece infantilidade da minha parte pedir isto, pois venho utilizando este "nickname" há algum tempo aqui no Indy Center Brasil e não quero ser "confundido" aqui.
      Utilize outro apelido.


      Obrigado!

      Karl

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    3. Não posso atender seu pedido, Karl, pois meu nick tbm é este!

      ABraço!

      Karl

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    4. Falou moleque.


      (old) Karl

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