Essa é mais uma nova série do Indy Center Brasil, onde responderíamos algumas questões de nossos leitores sobre qualquer aspecto da Indycar: pilotos, pistas, campeonatos e afins. Não será períodica e, muito provavelmente, quase não rolará durante a temporada, mas quando tivermos disponibilidade para responder questões que julgamos INTERESSANTES, faremos do melhor jeito possível.

Finalmente não terei que procurar pergunta porque recebemos a pergunta sem ponto de interrogação do leitor Eusébio Sachser: "Estive pensando que poderia ser interessante um post sobre os pilotos que já passaram pela F1 e que ingressaram a Indycar. Desde os menos conhecidos até os mais conhecidos. Tive essa idéia devido a vontade do Vergne para ingressar na Indycar ano que vem. Abraço galera e continuem com esse fantástico trabalho no site.

Tema bom e muito complicado pois, como o próprio leitor mencionou, são muitos pilotos. Então, ao invés de citar um monte de nomes que alguns você vai reconhecer e outros não, vamos fazer um histórico legal (ou não) da relação da Indy com a F1, e vamos citando pilotos no meio do caminho. Que tal?



Vocês sabem que a F1 foi criada durante os primeiros anos pós segunda guerra mundial, com o intuito de unificar e fortalecer o automobilismo numa época de grande recessão. Nesses primeiros anos as 500 milhas de Indianápolis fazia parte do calendário oficial de corridas da F1, mas quase ninguém do calendário oficial se deslocava até o outro lado do oceano para disputar as 500 milhas.

Ascari na Indy 500 de 1952.
Em 1952 aconteceu a única classificação de um piloto que corria o campeonato regular nas 500 milhas. O italiano Alberto Ascari e seu motor Ferrari se classificou no último dia de tomada de tempos e conseguiu o 25º lugar no grid de largada, correndo contra outros 30 carros com motores Offenhauser e dois carros com motores Novi. Ascari foi o único não-americano a disputar as 500 milhas na década de 50, e sua participação terminou na volta 40, após um problema no eixo de seu carro.

Vendo que essa relação com as 500 milhas não daria muitos frutos e se aliando a alguns circuitos mistos americanos (como Sebring e Riverside), a F1 não teria mais as 500 milhas em seu calendário a partir de 1961. Ironicamente, foi nessa temporada que a categoria teve seu primeiro piloto americano a ser campeão da F1, Phil Hill.

A partir daí as duas categorias se afastaram consideravelmente, já que a F1 e a USAC Championship eram bastante diferentes (uma andava apenas em circuitos mistos enquanto a outra tinha ovais e pistas de terra em quase todo o calendário). Quando a recessão econômica diminuiu e todos tinham mais dinheiro para desenvolver seus carros, as categorias estiveram consideravelmente separadas. 

Jim Clark em Indianápolis
Poucos pilotos da F1 tentaram correr as 500 milhas nessa época, como o americano Dan Gurney e o australiano Jack Brabham. O destaque maior fica para a Lotus de Colin Champman e para o Lola de Graham Hill . Os campeões Jim Clark e Jackie Stewart e Graham Hill correram as 500 milhas, sendo que Clark (1965) e Hill (1966) venceram.

Fórmula A em Westwood, Canadá, 1970.
No fim dos anos 60 e inicio dos anos 70 vários pilotos famosos na Europa voltaram a correr as 500 milhas, e esse período foi chamado de invasão britânica. Com esse maior interesse também foi criada uma categoria americana que utilizava motor e chassi de velhos carros da Indy e da F1: a Can-Am Challenge Cup. Pilotos como John Surtees, Bruce McLaren, Mark Donohue, François Cevert e até o brasileiro José Carlos Pace participaram dela, que durou até 1974. Nessa época, a fabricantes de motores Offenhauser se aliou a McLaren e essa parceria rendeu frutos: as vitórias das 500 milhas de 1972, 1974 e 1976, as últimas vitórias da Offenhauser em Indianápolis.

Mario andretti já foi novo, em 1971.
Entretanto, desde o início dos anos 70 até meados dos anos 80 alguns poucos pilotos apareciam da F1 para as 500 Milhas, mas sem muito sucesso. A única exceção era Mario Andretti. Andretti estreou em 1964 e foi tricampeão da USAC (1965-66-69). Após dez anos de USAC, ele se aventurou em tempo integral na F1 onde, após ser campeão (1978) e mais de uma dúzia de vitórias, o ítalo-americano voltou aos EUA, para disputar a nova CART Indycar Series. Ele foi o primeiro piloto a sair da F1 para disputar uma temporada completa nos EUA.

Presença massiva de pilotos da F1 na Indycar quando a CART já estava consolidada como chancela das principais corridas americanas e foi quando Teo Fabi e Derek Daly (1983), Mauro Baldi, Roberto Guerrero e Emerson Fittipaldi (1984) e Raul Boesel e Roberto Pupo Moreno (1985) entraram no mundo das corridas americanas. É a partir daqui que cito um monte de nomes, e que o Brasil passa a exercer grande influência no automobilismo americano.

Guerrero em Milwaukee, 1987.
Guerrero e Fittipaldi foram os pilotos oriundos da F1 que mais conseguiram destaque nos anos 80. Guerrero esteve muito perto de ganhar as 500 milhas de Indianápolis nos seus primeiros anos, mas nas temporadas completas sofria por completar poucas provas, o que quase sempre o deixava fora da briga pelo título; o ano que mais se aproximou da briga foi em 1987, quando conseguiu duas vitórias mas não conseguiu terminar a temporada devido a uma batida forte em um teste privado em Indianápolis.

Fittipladi teve resultados melhores na categoria. Nos primeiros anos de categoria conseguia resultados regulares com a Patrick usando chassis March e Lola. Em 1989, quando a Patrick se aliou a Penske e Emerson brilhou, se tornando campeão daquela temporada (quebrando o jejum de um estrangeiro ser campeão de uma temporada da Indycar, o que não acontecia desde Gaston Chevrolet, 1920) e vencendo as 500 milhas de 1989, com a famosa frase de Luciano do Valle:
Bateu Al Unser, bateu Al Unser, bateu Al Unser! Emerson vai ganhar! Emerson vai ganhar! O Brasil ganhou! O Brasil ganhou!
Vale mencionar que Boesel ficou em terceiro, quatro anos-luz atrás dos líderes.

Esse sucesso, aliado com uma boa receptividade desses pilotos para com as equipes americanas, fomentaram a vinda de vários pilotos da F1, alguns famosos como Eddie Cheever, Stefan Johansson, Nelson Piquet, e até Ayrton Senna fez um teste com a equipe Penske em Phoenix, 1992; outros nem tanto, como Olivier Grouillard, Andrea Chiesa, Andrea Montermini, Domenico Schiattarella e Christian Danner. Mas o caso mais icônico dessa fase foi o de Nigel Mansell, que foi campeão da F1 em 1992 e campeão da CART em 1993.

Indy 500 de 1995: a que teve mais estrangeiros.
Em meados dos anos 90 havia uma verdadeira invasão estrangeira na CART e nas 500 milhas. Dezenove dos trinta e três pilotos que largaram as 500 milhas eram estrangeiros, e a lista seria ainda maior se Fittipaldi, Marco Greco, Frank Fréon, Jim Crawford e Teo Palmroth conseguissem se classificar para a prova.

Com a cisão em 1996, a maioria dos pilotos que seguiam migrando da F1 iam direto para a CART (como Max Papis, Jan Magnussen, Mark Blundell, JJ Lehto e tantos outros) pois o modelo de competição era mais parecido e o ambiente bem mais aberto para estrangeiros. Apenas Roberto Guerrero, Eliseo Salazar e Eddie Cheever (e Raul Boesel em 98) migraram para a IRL nos anos 90. Os pilotos ainda chegavam aos borbotões da Europa em busca de um lugar ao sol que não conseguiam na F1.  Isso sem mencionar a ruma de gente que disputava a Indy Lights (incluindo brasileiros como Tony Kanaan, Hélio Castroneves e Airton Daré).

Grande destaque dessa época vai para Alex Zanardi que, após correr na F1 de 1991 a 1995, estreou na CART em 1996 e foi bi-campeão da categoria (1997-98). Voltou par a F1 na Williams, mas nada conseguiu lá e voltou novamente para a CART, onde conseguia bons resultados até seu grave acidente que lhe decepou as pernas.

Sei que o texto já está grande, mas vou fazer um spin-off, que seria um texto dentro do  texto: Vale destacar também dois pilotos que fizeram o caminho inverso: Jacques Villenevue e Juan Pablo Montoya.


Spin-off: Villenevue e Montoya.

Amobs fizeram o caminho contrário do mais mencionado nesse texto: Saíram da Indy (enão CART na época) após serem campeões e se aventuraram em terras além-mar.

campeão em 1995
Villenevue entrou na CART em 1994, depois de algumas passagens por Fórmulas 3 e uma ano na F-Atlantic em 1993. Estreou pela Forsythe/Green Racing, uma parceria entre duas equipes que se tornariam gigantes posteriormente, e terminou o ano no sexto lugar do campeonato, com direito a vitória em Road America.

No ano seguinte a Forsythe e a Green se separariam, e Villenevue permaneceria ao lado de Barry Green. O canadense conseguiu uma campanha memorável: conseguiu quatro vitórias e sete pódios e se sagrou campeão a frente de Al Unser Jr. (o atual campeão da categoria) e de Bobby Rahal (tricampeão da categoria).

campeão em 1997
Em 1996 Villenevue migrou para a F1 pela Williams, onde foi vice-campeão logo na temporada de estreia, foi campeão no ano seguinte com aquele movimento polêmico de Michael Schumacher. Com esse título, Villenevue se tornou o último a conseguir um título da F1 e da Indycar, e o segundo a conseguir primeiro o título da Indycar e depois da F1, assim como Mario Andretti.

Entretanto, os dias de glória diminuíram para Villenevue em terras estrangeiras. A Williams não repetiu a receita do carro dominante e Villenevue ficou para trás das McLaren e Ferrari, terminando o campeonato no quinto lugar.  Logo após, Jacques se juntou ao projeto BAR, que só veio a dar certo quando o mesmo saiu da equipe, em 2003. Tentativas nos anos seguintes com Renault e Sauber também não se mostraram muito mais frutíferas, e então o piloto migrou novamente para os protótipos e para a NASCAR.

Montoya vinha fazendo uma carreira na América, até migrar para a F-3 Britânica e o automobilismo europeu em 1995. Em 1998, o colombiano se torna piloto de testes da Williams, ao mesmo tempo que disputa a F3000 e no mesmo ano da última temporada de Jacques Villenevue na equipe.

Vencedor da Indy 500 em 2000.
Preterido por Zanardi na Williams em 1999, Montoya mostrou seu estilo agressivo de dirigir na CART pela Chip Ganassi, o colombiano bateu o companheiro Jimmy Vasser (campeão da CART em 1996), Michael Andretti e o duo da Green (Paul Tracy e Dario Franchitti) e, na última etapa, Juan Pablo Montoya se sagra campeão com o maior número de vitórias após empatar em pontos com Franchitti.

Em 2000 a Ganassi caiu no conto da Lola, e num campeonato bem equilibrado Montoya terminou na nona posição, mas apenas 42 pontos atrás do campeão Gil de Ferran.  Nesse mesmo ano a Ganassi disputou as 500 milhas de Indianápolis, o qual Montoya venceu assumindo a liderança definitivamente na volta 55.

Ganhando provas em 2003.
Em 2001 o colombiano finalmente consegue entrar na F1, pela Williams. Com o foco da Chip Ganassi cada vez menos voltado para a CART, Montoya se ajeitou na vaga de Jenson Button. O estilo agressivo e sua facilidade em fazer voltas rápidas e conseguir poles chamava bastante a atenção. Correu quatro anos pela Williams e conseguiu quatro vitórias, lutando pelo título de campeão em 2003. Em 2005, mudou-se para a McLaren, onde correu mais um ano e meio e conseguiu três vitórias no seu ano de estreia na equipe. Em agosto de 2006, anunciou que se mudaria para os protótipos e para a NASCAR.

No fim, ambos fizeram carreiras meteóricas na CART e conseguiram subir para a F1 e, após não obterem a força que tinham na categoria antes, saíram e foram para a combinação de NASCAR + Protótipos (ou protótipos + NASCAR), e nesse ano ambos voltaram para a categorias, seja correndo o campeonato todo (com Montoya, que até conseguiu vencer em Pocono) seja apenas para as 500 milhas de Indianápolis.

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Cristiano da Matta, 2002.
As divisões ficavam ainda mais claras, e conforme a CART perdia espaço, mais se focava no mercado estrangeiro (principalmente europeu e latino). Destaque para Cristiano da Matta, que foi campeão da CART em seu último ano de existência e em 2003 acertou com a Toyota para correr na F1. correu por uma ano e meio e voltou para a Champ Car, onde fez mais duas temporadas e se aposentou dos monopostos.

Com a Falência em 2002 e o surgimento da Champ Car, isso foi elevado a décima potência. Desde 2003 a categoria teve apenas o apelo da maioria das provas e de uma ou outra fabricantes de motores e chassis serem americanas, mas a maioria dos pilotos eram estrangeiras, e em nenhum de seus cinco anos de existência real houve mais de cinco americanos largando em uma mesma prova.

Minardi HVM em 2007
Nessa época, para os muitos pilotos que não conseguiam engrenar suas carreiras na F1, a Champ Car era uma das saídas mais óbvias, e desde seu início ela foi abrigo ara pilotos como Alex Yoong, Justin Wilson, Gastón Mazzacane, Franck Montagny, Timo Glock, Robert Doornbos e até para a Minardi, equipe de exatos vinte anos de história na F1 que, comprada por Paul Stoddart, fez uma tentativa de correr na Champ Car em 2007 com o espólio da HVM. 

Na IRL até 2007 subiam praticamente os pilotos japoneses que tinham ligação com a Honda, como Toranosuke Takagi e Shinji Nakano, que migraram para a IRL depois da falência da CART. Entretanto, muitos pilotos da IRL dirigiam carros de F1 em testes privados e em eventos. Hélio Castroneves, Ryan Briscoe, Scott Dixon e até Sarah Fisher guiaram carros da equipe.

Quando a IRl englobou o resto da Champ Car e foi formada a IRL Indycar, esse era o único alvo para quem queria (e quer até hoje) pilotar um monoposto americano. Takuma Sato foi o piloto que melhor se adaptou e permanece na categoria de 2010 até hoje. Muitos outros pilotos, como Giorgio Pantano, Jean Alesi e Scott Speed, apenas passaram para uma corrida ou outra.

Rubens Barrichello, 2012.
Talvez o caso mais icônico dessa década seja Rubens Barrichello. O piloto com mais corridas na F1 embarcou para a Indy depois de se ver sem opções de continuar na Europa e, com o auxílio de seu amigo Tony Kanaan, o trouxe para a KV Racing Technology. A passagem na temporada de 2012 rendeu alguns frutos, o piloto não conseguiu se adaptar, mas conseguiu dois top 5 nas últimas corridas e terminou o campeonato em 12º lugar. Essa passagem rende muitas reclamações do piloto até hoje.

Nessa temporada tivemos pilotos que passaram pela F1: Takuma Sato, Juan Pablo Montoya, Justin Wilson e Sebastien Bourdais; além de Franck Montagny e Jacques Villenevue que fizream corridas em Indianápolis. Será que, com esse olhar mais carinhoso para com a Indycar, essa tendências de pilotos vindos da F1 vai aumentar nos próximos anos??

Antes e depois do que já passaram pela F1 e correm atualmente na Indy
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Obs: Se você quer se aprofundar mais no assunto da nova leva, o Bandeira Verde escreveu um bilhão algumas palavras sobre o assunto e comparou coma vinda de um monte de pilotos em meados de 90 nesse texto. Dá uma passada lá também.

2 comentários:

  1. Indyamigos, obrigado por aceitarem minha sugestao! Belíssimo texto explicando MTA coisa q eu não tinha conhecimento. Vou verificar o Bandeira Verde tb. Abraços e sucesso sempre!

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  2. NAO VOLTA MAIS O TEMPO DE TANTOS BRASILEIROS CORRENDO JUNTOS????

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